Precisamos conversar sobre isso: há quase duas décadas, a grande imprensa
deixou de praticar o jornalismo. Só serve para veicular propaganda (comercial,
dos seus anunciantes; e política, das ideias dos seus donos). É só opinião e
pouquíssima informação. Uma ou outra notícia fora da curva visa dar aparência
de imparcialidade (tipo uma no cravo e dez na ferradura). Afinal, o
leitor-espectador ainda tem valor estatístico para balizar as tabelas de
publicidade.
A Rede Globo, fonte principal de informação de milhões de brasileiros,
manipula descaradamente a audiência desde sua fundação nos anos 1960, apoiando
e sendo apoiada pelo regime militar então vigente. Sozinha, não tem poder
absoluto, mas quando atua em uníssono com o resto da mídia, sua influência é
avassaladora.
Toda a mídia corporativa colaborou (o que é diferente de cobrir
jornalisticamente) com a Operação Lava Jato, jamais questionando as evidentes
arbitrariedades da força tarefa e seu coordenador, Sérgio Moro. Apoiou
ativamente (o que é diferente de noticiar) os protestos perfumados contra Dilma
e participou de forma decisiva da campanha pela sua deposição.
Jornalões e redes de tevê descartaram qualquer pretensão ao jornalismo
investigativo e limitam-se a difundir o discurso do poder. Maior exemplo: a reforma
da previdência, onde só saem matérias a favor, sem debate, sem contraditório.
Um exemplo revelador: onde está Queiroz? Os “jornalistas” não se empenham
em procurar o personagem central de um escândalo que abala os pilares do
governo. Não cobram das forças de segurança sua localização. Também não
perguntam por que a justiça não determinou sua condução coercitiva. Muito menos
investigam a suspeitíssima movimentação financeira do ex-policial assessor e
amigo dos Bolsonaro.
Isso não é jornalismo.
Liberdade de imprensa, nessa realidade, é apenas uma figura de retórica: é
a permissão de os donos dos meios de comunicação fazerem o que querem, em
defesa de seus interesses e em função de sua ideologia.
Quanto ao direito do público à informação, os barões da imprensa estão se
lixando.
Homero
Fonseca é jornalista, escritor e coach literário. Foi editor da revista
Continente. Autor do romance "Roliúde", entre outros livros.
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