Por Altamir Pinheiro
A saudade nos traz de volta ou faz
lembrar que, há 50 anos, nossos extintos cinemas de rua de
cidadezinhas do interior tinham como atração na década de 1970 tantos
cartazes divulgando um bang bang à italiana. Através do cinéfilo Paulo
Telles vamos viajar no tempo, ou melhor, iremos fazer
ON TOUR nesse personagem intitulado DJANGO tão bem interpretado tanto pelo
italiano Franco Nero quanto o brasileiro Anthony Steffen.
Recordaremos alguns filmes antigos protagonizados por este herói
que encantou os amantes do faroeste à italiana nas salas de
projeções do mundo inteiro. DJANGO, de 1966, dirigido por Sergio Corbucci
foi o filme que deu a Franco Nero(77 anos) o reconhecimento mundial como um dos
maiores ícones do gênero western europeu.
Em 1965 SERGIO CORBUCCI era apenas mais um dos
tantos cineastas italianos que passaram a explorar o filão do faroeste na
Itália, à sombra do outro SERGIO, o LEONE, este prontamente reconhecido como
renovador do gênero western. Para seu terceiro faroeste, rodado entre novembro
de 1965 e janeiro de 1966, Corbucci criou um personagem que nem o mais otimista
dos cineastas poderia imaginar que se tornaria a mais emblemática representação
daqueles filmes que logo viriam a ser chamados de western spaghetti. Nos
confirma o cinéfilo Darci Fonseca que, a escolha do nome desse
personagem foi um desses momentos de rara felicidade, com Corbucci tendo a
ideia de chamá-lo de “DJANGO”, inspirado por Django Reinhardt, célebre
guitarrista cigano.
O primeiro filme desta marca registrada se deu
no ano de 1965/66. Django (Franco Nero) é um homem que arrasta consigo um
caixão, onde dentro está escondida uma poderosa metralhadora. Na fronteira do
México, ele está disposto a vingar a morte da sua esposa, e parte para uma luta
sangrenta contra duas gangues rivais que agem na região, isso depois de fazer
um acordo com o bandido local Hugo Rodriguez. Só que desconfiado das intenções
de Rodriguez, ele resolve se juntar a Maria uma mulher que havia salvo, e os
dois serão perseguidos pelo mexicano.
Em 1969 entra em cena um brasileiro com o
filme DJANGO, O BASTARDO. Durante a Guerra Civil Americana, três oficiais do
exército confederado, líderes de um regimento, se vendem aos rivais ianques,
matam os sentinelas e permitem que a tropa inimiga massacre todo seu regimento.
Porém Django (o ítalo-brasileiro Anthony Steffen, nascido Antonio de Teffé em
1929 no consulado brasileiro na Itália, e falecido em 2004, aos 74 anos de
idade, no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro), que é um dos soldados, não
morre. E anos depois, como que surgido do inferno, ele começa sua caçada de
sangue aos homens que o deixaram à beira da morte. Será que ele é um fantasma
ou simplesmente um homem com sede de vingança? Ele é Django, que voltou do
inferno, e agora ninguém vai fugir de seu gatilho. Este bom filme é dirigido
por Sergio Garrone.
Há 6 anos, em 2013, estreou em
todos os cinemas brasileiros o novo filme de Quentin Tarantino, DJANGO LIVRE
(Django Unchained). O filme nem parece ser um faroeste, um clássico estrelado
por Franco Nero em 1966 (que por sinal faz uma participação pequena no novo
filme do cineasta Tarantino), mas de um certo modo faz uma releitura deste
personagem que foi explorado em outros westerns spaghetti entre 1966 e 1972,
com um retorno em 1987(com Django: a Volta do Vingador). Na verdade, o
excelente filme teve como protagonista o ator negro JAMIE FOXX. O ator
interpreta o personagem título, mas NÃO foi a primeira opção do cineasta, tendo
sido escolhido após a recusa de outro negro WILL SMITH em ficar com o
papel.
Em sua sinopse, Django (Jamie Foxx) é um
escravo liberto cujo passado brutal com seus antigos proprietários leva-o ao
encontro do caçador de recompensas alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz).
Ao realizar seu plano, Schultz liberta o escravo Django, embora os dois homens
decidam continuar juntos. Dotado de um notável talento de caçador, Django tem
como objetivo principal encontrar e resgatar Broomhilda (Kerry Washington), a
negrinha, sua esposa, que ele não vê desde que ela foi adquirida por outros
proprietários, há muitos anos. Um personagem importante do filme DJANGO
LIVRE é Calvin Candie muito bem interpretado por Leonardo DiCaprio
que tem uma desenvoltura espetacular. Em que pese ser um filme altamente
violento(muito sangue), vale a pena assisti-lo. Recomendo-o!!!
Pegando uma canja dada pelo cinéfilo Bruno
Carmelo, podemos concordar com ele quando afirma categoricamente que, Django
Livre é um filme excessivo: existem tramas demais, personagens demais,
reviravoltas demais; a duração é longa, o sangue jorra por todos os lados, as
referências se multiplicam sem fim. Mais do que nunca, o grande cineasta
QUENTIN TARANTINO está consciente do caráter épico desta história, do teor
sensível do tema e de suas imensas habilidades na direção. Este novo filme é
uma prova de que as ambições do diretor estão cada vez maiores – e de que ele
ainda consegue corresponder às altas expectativas que constrói, inclusive, no
final do filme o diretor Tarantino aparece em algumas cenas quando é detonado
com uma carga de dinamite por Django.
A primeira hora do filme é um verdadeiro show
de Christoph Waltz. Através deste personagem, o meio dentista, meio caçador de
recompensas King Schultz, a história estabelece seu contexto. Aprendemos que
estamos em um faroeste, pouco antes da Guerra Civil, no sul dos Estados Unidos.
É um grande prazer assistir a Waltz atuando mais uma vez no papel de um homem
inteligente e sarcástico, algo que ele domina perfeitamente bem (depois de
Bastardos Inglórios e Deus da Carnificina). A paródia que ele faz das
tradicionais cenas do saloon, e das cenas de duelos com armas nas ruas da cidade,
é hilária.
Este filme é um deleite visual, com
fotografia, cenário e atuações impecáveis. Leonardo DiCaprio apresenta um lado
que nunca tinha mostrado antes no cinema. Ele reflete sobre o passado - com o
tema da escravidão e o gênero fora de moda do faroeste -, mas consegue levá-lo
ao presente; ele consegue ser ao mesmo tempo crítico, reflexivo, engraçado,
perverso. O próprio momento em que Django é obrigado a atuar no papel de um
homem racista, explorando os negros, é de uma força única. O diretor Tarantino
tem em mãos um dos melhores roteiros que já escreveu, uma amostra de que o
cinema de qualidade pode unir o público e a crítica, sendo tão moderno quanto
clássico. Django Livre é, assim, um espetáculo imenso, um show de imagens e
sons, uma aula de cinema, e um filme completo, assista-o!!!
Hoje, Sergio Corbucci(inventor do personagem
Django), descansa em paz e aonde estiver deve estar satisfeito com a discussão
de sua obra mais querida entre os amantes do gênero. E graças a TARANTINO, com
seu faro cinéfilo, traz de volta um dos personagens mais inspiradores. Assista
ao filme por completo clicando no endereço abaixo. Em que pese a projeção ser
mais longa do que este texto, mas vale a pena conferir. É um filme faroeste
imperdível para os padrões tecnológicos do Século XXI.
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