Primeira
mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras, a escritora cearense Raquel
de Queiroz é autora de livros muito bons, dentre eles O Quinze (que publicou
quando tinha apenas 19 anos), Dora Doralina, As Três Marias e Memorial de Maria
Moura.
Algumas de
suas obras, caso das citadas, foram adaptadas para o cinema ou televisão.
Mas
Raquel, além de escrever grandes romances, era uma cronista de mão cheia, produziu milhares de textos curtos divulgados em jornais e depois reunidos em livros.
Simpatizante
da esquerda na juventude e mais alinhada à direita na maturidade, Raquel foi antes de tudo uma grande escritora. Inteligente, sensível, capaz de produzir pérolas como
esse “Netos”, que publicamos aqui.
Quem já é
avô ou avó vai entender e achar que acabou de ganhar um presente. Quem for
jovem, guarde no baú e se Deus lhe permitir uma longa vida releia daqui a
alguns anos. Aí você dirá para seus botões. “Mas é isso mesmo! Perfeito!”.
NETOS –
Por Raquel de Queiroz
"Netos
são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de
repente lhe caem do céu... Sem se passarem as penas do amor, sem os
compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. O neto é, realmente, o
sangue do seu sangue.
Com a
idade chega a saudade de alguma coisa que você tinha e que lhe fugiu sutilmente
junto com a mocidade. Meu Deus, para onde foram as crianças? Transformaram-se
naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e
sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo
algum suas crianças perdidas. São homens e mulheres- não são mais aqueles que
você recorda.
E então,
um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do
parto, o doutor lhe coloca nos braços um bebê. Completamente grátis.
Sem dores,
sem choro, aquela criancinha da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor
da mocidade, longe de ser um estranho, é um filho seu que é devolvido.
E o
espanto é que todos lhe reconhecem o direito de o amar com extravagância.
Tenho
certeza de que a vida nos dá netos para compensar de todas as perdas trazidas
pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vem ocupar aquele
lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.
E quando
você vai embalar o menino e ele, tonto de sono abre o olho e diz: "Vó!",
seu coração estala de felicidade, como pão no forno!
Esse negócio de família é coisa de reacionários conservadores de direita! O bom esquerdista moderno segue o que prega, destruindo sua família, colocando filhos nas drogas, na putaria e no homossexualismo.
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