Por Michel Zaidan Filho*
Quando o “muro do Berlim”
ruiu, talvez apressadamente demais, houve uma onda de euforia neoliberal que
pretendeu retificar a história contemporânea, extirpando dela as páginas
dedicadas à experiência socialista. Numa leitura canhestra – influenciada por
Alexandre Kojeve- da filosofia da História de Hegel, apareceu um profeta
nissei chamado Francis Fukuyama que
prognosticou o fim da História, com isso querendo dizer que a democracia liberal e a economia de mercado eram o ponto
final da evolução política e social da humanidade. Como disse então Eric
Hobsbawn, aquela era uma profecia de vida muita curta, logo depois veio a
guerra do Golfo e a roda da História continuou a girar.
Agora, apareceu no Brasil um
estadista de Belo Jardim cuja primeira medida é o fim da História, outra vez. 0
que tem certos políticos para acertar
logo a História, quando detém um pouco de poder nas mãos? – Numa leitura
freudiana, o gesto poderia ser interpretado com o assassinato simbólico dos professores
de História do atual ministro. Lembre-se que ele manteve uma polêmica azeda com
seus mestres, na época da escola parque do
Recife, chamando-os de “subversivos”. É como se vingasse deles, agora,
retirando a disciplina do currículo do ensino médio. Mas essa seria uma
interpretação rasa, superficial.
A retirada da obrigatoriedade
do ensino de História, no ensino médio, faz parte de um plano arquitetado pelo
lobby dos empresários do ensino, interessados no aligeiramento do perfil do
alunado. Para esses “educadores pragmáticos” a História não tem a menor
serventia para a formação de uma força-de-trabalho barata e dócil, destinada a
um mercado de locação de serviços desregulamentado. Como, aliás, a Filosofia, a
Sociologia e as Artes. Para que tanta coisa (a formação humanística), quando se
trata de produzir “massa de manobra” para a exploração desse capitalismo
(rentista) selvagem? – Deixa para os filhos da burguesia, da alta classe média,
dos herdeiros dos grandes impérios industriais, que precisam sim de uma
formação integral, ampliada, de perfil crítico, inventivo. E que podem pagar –
caro – por isso. É o reforço da divisão social entre que manda e quem obedece.
Quem tem e quem não tem capital social, capital simbólico, capital intelectual.
A história já foi prisioneira
de inúmeras práticas discursivas. A mais conhecida é a história genealógica, de
Nietzsche e Foucault. A história, como mera racionalização de uma vontade de
poder ou de potencia. Mas ela não só serve para isso. A história é vida e não
um cadáver embalsamado para contemplação de eruditos. A história é o domínio
dos possíveis, da virtualidade, daquilo que ainda não é, mas pode vir a ser. É
essa a concepção de História que precisamos. Não a história antiquária, ou a da
erudição balofa e vazia. Não a história como racionalização da epopeia do
vencedor. A história que está viva é a história das nossas utopias, dos nossos
sonhos, dos projetos de alteridade social.
Essa história nenhum
avicultor poderá matar ou suprimir. Pode reescrever ao sabor de suas
conveniências políticas. Mas ela sempre viverá, como ideia reguladora, a guiar
o ideal de justiça, de beleza, de verdade dos homens e mulheres de boa vontade.
*O garanhuense Michel Zaidan Filho é escritor com diversas obras publicadas, cientista político e professor da UFPE na área de Ciências Humanas.
*Foto: Portal Controvérsia
Ótimo texto, dão extrema importância a matemática e ao português mas "esquecem" Da importancia de discutir e debater a sociedade no campo das ciências humanas, o passado é o presente meus amigos, mais do que nunca eu vejo o futuro repetir o passado! Não queremos uma escola que forma robôs!!!
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