Da ex-deputada federal Luciana Genro, que disputou a presidência da República pelo PSOL:
Logo após o segundo turno voltamos ao mundo real. Reeleita, a
presidenta Dilma Rousseff voltou a falar aos banqueiros e grandes capitalistas.
A alta dos juros e da gasolina foram sinais para ganhar confiança. Depois de
tantas promessas de melhorar a vida do povo, a melhora foi para o "Bolsa
Banqueiro", não para o Bolsa Família.
Ainda assim, o PSDB e os mercados reclamam do governo, pois
querem mais superavit, dando ainda mais garantias ao capital financeiro.
Como previsto, no fim do segundo turno o discurso de esquerda do
PT foi enterrado. Sem pressão popular, Dilma fará o que ela dizia que Aécio
Neves iria fazer: um ajuste nas costas do povo para garantir o pagamento de
juros às 5.000 famílias mais ricas do Brasil.
Junto com a crise econômica, a crise política. Os executivos das
maiores empreiteiras do país foram presos. Essas empreiteiras, que são também
as maiores doadoras das campanhas eleitorais do PT, PSDB, PMDB e demais
partidos do sistema, são parte de um dos maiores escândalos de corrupção já
revelados.
Mas o que apareceu ainda é muito pouco. Até por que essas
empresas atuam em todas as obras do governo. O que indica que as obras devem
sofrer do mesmo mal: superfaturamento, propinas, desvios. As alegações tão
comuns do tipo "eu não sabia" resultam ridículas diante da realidade
inquestionável de que todos os que estão no poder conhecem perfeitamente a
dimensão corrupta desse sistema político.
A corrupção é parte do funcionamento do sistema, não um caso isolado
que se resolve apenas com mais transparência. O acordo entre PT e PSDB para não
convocar políticos para depor na CPI é mais uma demonstração daquilo que na
campanha eu chamei de "sujo falando do mal lavado".
No discurso da vitória, Dilma falou em convocar um plebiscito
para fazer a reforma política. Em junho de 2013, sem saber o que fazer diante
das mobilizações nas ruas, a presidenta já havia levantado essa proposta. Mas
Dilma não levou a ideia adiante nem lutou por ela e, agora, ocorre a mesma coisa,
diante da resistência do PMDB, que como o PSDB e seus amigos, quer que apenas o
Congresso decida.
O PSOL tem lado nesse jogo. É preciso lutar por saúde, educação,
moradia popular, transporte de qualidade e até pelo direito à água. É preciso
combater a violência contra os pobres, expressa na estarrecedora chacina de
Belém do Pará. Para isso, vamos enfrentar tanto a direita como o governo, que é
o agente de aplicação dos planos do capital.
Sem participação popular, a reforma política será para pior. A
imposição de uma cláusula de barreira está na pauta. Com a desculpa de acabar
com os partidos fisiológicos, querem garantir maior estabilidade para o
capital, de forma que tudo continue igual quando muda o governo.
O peso do poder econômico e da grande mídia transforma as
eleições em uma expressão distorcida da vontade do povo. O dinheiro das
empreiteiras corruptas irrigou quase todas as campanhas. O PSOL é o único
partido com representação no Congresso que estatutariamente proíbe seus
candidatos de receber doações de empreiteiras, bancos e multinacionais.
Mesmo com uma campanha quase sem recursos, dobramos nossa
votação para a Presidência da República e dobramos o tamanho das bancadas em
relação a 2010 porque as jornadas de junho se expressaram no processo eleitoral,
ainda que de forma minoritária.
O povo brasileiro não caminha para a direita. O PT foi vítima do
voto de protesto, e muitos que ainda votaram no PT o fizeram por medo de que a
direita retome o governo diretamente. Mas sem uma alternativa de esquerda esse
é um caminho inevitável, e o PT no poder já faz o que os capitalistas mandam.
É preciso seguir a luta por mais direitos, unir a esquerda
coerente e construir uma alternativa de mudança para melhor.
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