Teresa Cruvinel:
Como pesquisa é pesquisa e eleição é outra coisa, ninguém pode
apostar hoje no resultado de domingo. Mas é certo que o eleitorado fez
movimentos importantes nos últimos dias, que resultaram na inversão da vantagem
numérica a favor de Dilma, apontada por duas pesquisas Datafolha seguidas. O
instituto talvez tenha feito uma logo depois da outra como resposta aos
questionamentos iniciais da candidatura de Aécio. Dilma pode não ter 52% (teria
49% no limite mínimo da margem de erro), e ele pode não ter 48 (tendo 51% no
teto da margem de erro), persistindo, a rigor, a situação de empate técnico.
Mesmo assim, a vantagem numérica está sendo um aceno da vitória para Dilma,
embora até domingo muita coisa ainda possa acontecer. Haverá um debate na
sexta-feira em que ambos apostarão todas as fichas.
Para o que aconteceu nos últimos dias e horas, muitas são as
explicações. A Folha de São Paulo atribuiu hoje o crescimento de Dilma ao
aumento do otimismo com os principais indicadores da economia: inflação,
emprego e situação econômica geral, apesar do crescimento pífio do PIB este
ano, projetado em 0,3%.
Outra explicação, esta já
ensaiada pelo próprio PSDB, responsabiliza os ataques da campanha de Dilma a
Aécio pelo crescimento dela, e em particular a exploração da crise hídrica de
São Paulo. Há que se discutir isso. O Datafolha pesquisou a reação dos
eleitores à pancadaria e colheu uma desaprovação geral de 71% dos
entrevistados. Mas 36% apontaram Aécio como o mais agressivo,
contra 24% que apontaram Dilma como tal. Outros 27% disseram que ataques fazem
mesmo parte das campanhas. Pode ser (e isto é uma especulação) que a percepção
maior de agressividade em Aécio tenha origem na forma com que ele se dirigiu à
presidente-candidata, chamando-a de mentirosa e leviana, embora ela tenha
desferido ataques contundentes, mas sem adjetivar: acusou-o de empregar
parentes, fazer aeroporto em benefício próprio e recusar-se a fazer o teste do
bafômetro, entre outras coisas. A Folha sugere que o conjunto de mensagens
contra Aécio – somando horário eleitoral, debates e redes sociais – impactou
negativamente os eleitores que recentemente haviam aderido ao tucano.
Aqui, entra o elemento
Internet, que nunca teve tanta força como nesta campanha. O assunto eleições
adquiriu uma predominância inédita nos conteúdos publicados e nas mensagens
pelas redes sociais. A pesquisa Datafolha realizada na segunda-feira (20)
apurou que para 19% dos entrevistados, as redes sociais “influenciaram muito” o
voto no primeiro turno. Outros 20% disseram que “influenciaram um pouco”. O
hábito de declarar o voto nas redes sociais também foi medido: 20% disseram ter
feito isso no primeiro turno e 22% já o fizeram agora, no segundo. Segundo a
pesquisa, 75% dos internautas inscritos em redes sociais estão lendo notícias
sobre as eleições por meio de suas contas: 68% usam o Facebook, 41% o WhatsApp
e 11% o Twitter. A soma dá mais de 100% porque alguns usam mais de uma rede. De
cada 10 eleitores, seis têm acesso à Internet. Metade destes conectados (47%)
conta em alguma rede social e 46% deles dizem compartilhar notícias sobre o
pleito.
Os serviços de monitoramento
de redes sociais não oferecem ainda dados precisos sobre a força da “militância
virtual” de cada candidato. Petistas e tucanos trocaram chumbo pesado o tempo
todo e a artilharia de Dilma deve ter tido um peso particular em
sua recuperação. Tanto é que os tucanos reclamam muito do bombardeio com
“calúnias e infâmias” contra o candidato. Na selva da Internet, vale
tudo, e quem tiver mais pontos vulneráveis levará a pior.
E há também, nesta nova força
das redes sociais nas eleições, diz o professor Cristiano Henrique, professor
da Escola de Comunicação da UFRJ, um ganho para democracia: as redes
impulsionaram a ressurreição da política como espaço de reflexão, debate e
participação da sociedade, ainda que tenham tratado mais de aspectos pessoais
dos candidatos do que de suas propostas. Mas isso já é bem melhor que a
passividade e a alienação. Sinais de amadurecimento democrático. Os
candidatos que se preparem para estes novos tempos, em que as redes terão tanto
peso quanto o horário eleitoral e os debates e o papel da grande imprensa e
seus formadores de opinião será cada vez menor.
*Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde
1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna
“Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews.
Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal
público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o
mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014).
Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247.
Se os meios de comunicação dos poderosos estão com o neofascista, nós só temos a Internet e os Blog's para nos contrapor aos conglomerados econômicos, e expor nossa idéias e nossas posições. Por isso sou Dilma 13.
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