TESOUROS DE GARANHUNS

Entrada da cidade

ESPECIAL - Na passagem de 2013 para 2014 o blogueiro teve uma conversa muito enriquecedora com Dr. Saulo Rocha, o otorrino, e Geraldo Nogueira, o Geraldo da Ótica. Os dois, apaixonados por Garanhuns falaram muito sobre a cidade. De ontem, de hoje, do amanhã.

O médico conversou mais e fez observações bem interessantes sobre Garanhuns, que considera uma cidade atípica no interior de Pernambuco e no Nordeste brasileiro. Dessa conversa surgiu este texto, com o lado bom do município.

Por que a Suíça Pernambucana é diferenciada? O que o município tem de diferente em relação a outros do Estado?

Para começar ninguém tem um título desses à toa. No Nordeste de tantas cidades quentes, algumas feias, sem estilo, Garanhuns se destaca pelo seu clima frio, ameno mesmo no verão, principalmente à noite. Essas temperaturas frias, que chegam próximas dos 10 graus, nos invernos mais rigorosos, transformaram o lugar – um dos poucos do Brasil fundado por uma mulher: Simoa Gomes – na terra da garoa.

Cheia de charme, como uma mulher madura e bela.

Garanhuns tem esse “clima maravilhoso” por ser um dos municípios de maior altitude do Estado. Passa dos mil metros no ponto mais alto do bairro do Magano.

Como se isso fosse pouco a cidade ainda é cercada por sete colinas: Monte Sinai, Triunfo, Columinho, Ipiranga, Antas, Magano e Quilombo. De cada local desses se tem uma visão especial, se descortinando aos olhos das pessoas o verde das árvores, casas, municípios próximos, bairros, igrejas, parques e toda uma natureza exuberante onde se destacam um céu cinematográfico e quase todo entardecer um magnífico por de sol.

TESOUROS  - Nesta Garanhuns de tantos tesouros, naturais ou criados pelo talento do homem, podemos começar pela Igreja do Sítio Timbó, uma comunidade quilombola, não muito distante do centro urbano. A construção do templo é do final do século XVIII e segundo documentos antigos encontrados no local a sua origem está ligada à imagem de Nossa Senhora de Nazaré, trazida da Bahia por um negro fugido. Ele e outras famílias fizeram a capela com tijolo artesanal, com apenas uma porta, que é de madeira.

No centro da cidade a imponente Catedral de Santo Antônio, padroeiro do município. A igreja foi construída em 1859 e restaurada em 1872. Imponente com suas cinco portas de madeira, vitrais e a cúpula com a imagem do santo em concreto. Por esse templo, no coração da cidade, já passaram tantos religiosos que fizeram história: Monsenhor Adelmar, Padre Tarcísio, Dom Tiago, Padre Aldo, Padre Marcelo Protásio, Monsenhor Benevenuto Sátiro, Dom Adelino Dantas, Dom Irineu e o bispo Dom Expedito, vítima da loucura de um sacerdote, o Padre Hosana...

A Igreja de São Sebastião, no bairro da Boa Vista, um belo prédio estrategicamente no alto, como se estivesse mais próximo de Deus. E olhasse permanentemente por todos os moradores do bairro, um dos mais populares e antigos de Garanhuns. Na história recente da paróquia, dois padres se destacaram atraindo com frequência os fieis: Carlos André, hoje em Águas Belas, e Padre Emérson, o atual, que encanta os católicos com a Missa da Graça.

E a Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no bairro de Heliópolis, de formas arredondas, como um cuscuz, na linguagem simples do homem do povo. É uma construção singular, arrojada, moderna, mesmo tendo sido construída muitos anos atrás.

RELIGIOSIDADE – A religiosidade do povo de Garanhuns está impregnada por todos os lugares. Quase 114 anos atrás os americanos escolheram este município atípico do interior do Nordeste para construir um colégio evangélico. E surgiu o Quinze de Novembro, um dos mais tradicionais do Estado, ainda hoje imponente, com prédios modernos que foram feitos ao longo do tempo, mas conservando a casa original que deu origem à escola. Pelas salas de aula deste educandário passaram muitos médicos, advogados, juízes, engenheiros, arquitetos e muita gente importante, hoje espalhada pelo Brasil e exterior.

Os católicos não ficaram atrás por muito tempo e poucos anos depois fundaram o Colégio Santa Sofia, na época para atender as moças. Um prédio majestoso, colado à Catedral de Santo Antônio. A escola, claro, não tem só um imóvel de arquitetura arrojada. Também ao longo dos anos vem dando a melhor formação possível a jovens de muitas cidades do Agreste Meridional, de outras regiões e de outros Estados.

Construído o Colégio das Meninas, os católicos fizeram a Escola dos Meninos. E surgiu o Diocesano, um gigante na antiga Praça da Bandeira. Basta olhar o prédio antigo e conservado para sentir sua importância, perceber seu valor histórico. “Alto padrão de civismo e de glória”, consolidado sob a direção de Monsenhor Adelmar e que hoje continua em boas mãos com o professor Albérico Fernandes.

Padre Adelmar, que depois virou Monsenhor, era um administrador austero. Com o dinheiro do Diocesano, que sempre cobrou mensalidades acessíveis à população menos endinheirada da cidade e região, construiu outro colégio católico, o CMA ou Colégio Monsenhor Adelmar, em homenagem ao seu fundador.

Mãe Rainha

MÃE RAINHA – Na sua passagem por Garanhuns, o bispo Irineu Roque Scherer fez muito pela Igreja Católica e pelo município. Pegou o Seminário São José, na Avenida Rui Barbosa, quase em ruínas e fez uma reforma que o deixou novo e ainda mais bonito. Virou um novo cartão postal da Suíça Pernambucana.

O bispo também faria o mesmo com o prédio da cúria, velho e com aspecto de abandono. Depois da reforma ficou novo, moderno, harmonizando um pouco mais o centro da cidade.

Bastaria esse trabalho e a sua missão pastoral para Dom Irineu ter ficado na História do Município. Mas ele fez mais: construiu o Santuário da Mãe Rainha, numa das sete colinas.  E o local hoje é centro de peregrinação e um dos principais atrativos turísticos do interior pernambucano.

Para completar Garanhuns ainda tem o Mosteiro de São Bento, construído em 1940, todo em tijolo aparente, uma construção rústica, num ponto elevado do terreno, no pé da subida para o Magano e de frente à praça ao lado do Centro Cultural. Este é outro tesouro, resultado da visão do prefeito Souto Dourado, que fez da antiga estação de trem um dos lugares mais bonitos e amados de Garanhuns.

CELSO GALVÃO – Garanhuns teve grandes prefeitos no passado, homens que olharam à frente e deixaram obras que ainda hoje estão aí, encantando as novas gerações locais e os muitos visitantes. Um desses políticos foi Celso Galvão, prefeito também de Caruaru. Um fato inédito: o mesmo homem governar dois dos maiores municípios de Pernambuco na sua época.

A marca de Celso Galvão ficou principalmente em duas obras: no Cristo do Magano, construído nos anos 50 e no prédio da Prefeitura, que hoje leva o nome do ex-prefeito. É um imóvel único no Estado, em estilo europeu, com escadarias, corredores e algumas salas ainda bem amplas, como a que serve de gabinete para o chefe do Poder Executivo Municipal.

Outro que pensou anos à frente foi o engenheiro Ruber van der Linden. Ele que fez o Parque Pau Pombo, hoje batizado com o seu nome. Um lugar encantador para se visitar em qualquer dia da semana. Bem próximo ao centro, deslumbra pela variedade de árvores, plantas, flores. Bom de ver, se sentir, bom para namorar ou ouvir música de qualidade no período do Festival de Inverno.

Espaço igualmente agradável e bonito é o Parque Euclides Dourado, com seus eucaliptos e pistas apropriadas para que os garanhuenses façam diariamente suas caminhadas. Tem parque infantil, casa de pombos, biblioteca e durante o FIG junta todas as tribos, com muito forró, pop, MPB, artesanato e até circo.

Relógio de flores na Praça Tavares Correia

PRAÇAS  - Que seria de Garanhuns sem as suas praças? Dá para imaginar a cidade, hoje, sem a fonte luminosa ou o relógio de flores.

Os bons prefeitos do município, os que amam realmente a cidade cuidaram bem dos seus tesouros. Ivo fez o relógio de flores na Tavares Correia, José Inácio construiu a fonte luminosa na Souto Filho e Silvino deixou a Praça da Bandeira, hoje Monsenhor Adelmar, ainda mais bonita. Izaías está tendo a preocupação de conservar todos esses locais. Já deu seu toque nessas citadas e também na Dom Moura e na Pedro II, na Boa Vista.

O POETA - “O Céu existe entre sete colinas, Garanhuns é de lá”. O jornalista garanhuense Ronildo Maia um dia se saiu com esta frase, escrevendo nos jornais da capital. Poucas palavras enigmáticas que dizem muito.

Há uma informação: Garanhuns fica entre colinas. Um jogo de palavras, um trocadilho: o céu existe de maneira diferente neste lugar diferenciado, ou atípico, na avaliação do Dr. Saulo Rocha. Garanhuns é de lá, desse lugar singular com um céu – provavelmente mais bonito – entre sete colinas. É como se dissesse: “Isso só tem lá, na cidade em que nasci”. Ronildo, que Deus o tenha, foi poeta e cantou a cidade como ninguém numa simples frase.

Garanhuns de Ronildo e seu irmão, Wladimir  Maia Leite. Do escritor Luís Jardim, com suas proezas e a Maria Perigosa. De Toinho, do Quinteto Violado e do grande músico, compositor, cantor e sanfoneiro Dominguinhos. De Augusto Calheiros, que nasceu em Alagoas, mas virou garanhuense de corpo e alma e pediu para descansar eternamente na Boa Vista, “terra onde se criou”.

Garanhuns da jornalista Cristina Tavares, escritora e deputada federal por três vezes, e do retirante Luiz Inácio Lula da Silva. O homem que virou operário em São Paulo e se tornou o primeiro homem do povo a governar o Brasil.

Garanhuns do Hotel Tavares Correia, do Castelo de João Capão, do prédio da antiga Difusora, dos Ferreira Costa com seu comércio centenário, do Columinho, de Inhumas, da Barragem do Cajueiro, do Festival de Inverno, do Gigante do Agreste, da AGA, das novas faculdades, das novas escolas e empreendimentos que vão surgindo.

Cidade das flores, Cidade Jardim.

Dr. Saulo, um dos poucos médicos da cidade que nasceu em Garanhuns, tem razão: temos uma cidade atípica. Cheia de tesouros, de história, de potencialidades. Um município aberto ao mundo e que acolhe bem os que vêm de fora. Basta ver a relação dos últimos prefeitos: um veio de Lajedo, outro de Flores, outro da Paraíba, o seguinte de Calçados e temos agora um administrador nascido na pequena Terezinha.

Mas o povo é exigente: gosta de se vestir bem, de morar bem, de ostentar o status burguês e quando se cansa da mesmice faz revolução pelo voto.

Essa é Garanhuns. Uma cidade encantadora.

Igreja do Timbó

Seminário de São José

Cristo do Magano

Castelo de João Capão

Prédio da Prefeitura, chamado

de Palácio Celso Galvão

*Algumas das fotos encontradas no Google foram identificadas como de Elio Rocha, do Panorâmio. Outras não conseguimos descobrir o autor. Mas cada um que fez a imagem pode informar para que possamos dar o devido crédito.