OS BICHOS RICOS SÃO OS MAIS PERIGOSOS

Do jornalista Ruy Sarinho, fazendo um desdobramento do artigo anterior sobre a violência:

Neste País, em que ministros do STF viram estrelas globais, pautados pelo Jornal Nacional, cuja linha editorial vem da Casa Branca, a vida das pessoas não tem valor nenhum. Mas, não são somente os ignorantes e miseráveis que fomentam a violência. É todo um conjunto cultural. Se filhinhos de papai se envolvem numa briga e apanham, aí, não podem ficar desmoralizados, tem que lavar a honra das suas nobres famílias aristocráticas. 

A receita é a mesma, há décadas: contrata um matador de aluguel, muitos deles com origens nas Polícias estaduais, e mais um crime de execução humana é realizado na frente de quem quiser assistir. É a força do poder econômico e social que termina desaguando, também, no poder político. Nada como um mandato eletivo para reforçar e proteger o criminoso "gente de bem". Esse pessoal tem certeza da impunidade e da proteção política. O próximo passo é se eleger para algum cargo público, de prefeito ou coisa parecida. E contar com o apoio de muita gente, também eleitora, que vai para os blogs fazer apologia ao crime contra à vida e à violência, argumentando que foi feita a defesa da honra. 

As vítimas desses crimes de morte ainda são agredidas, enquanto o Ministério Público parece não existir, ou, simplesmente, se omite convictamente. Agora, se um faminto roubar uma lata de sardinha num mercado, vai mofar atrás das grades, enquanto o burguês que mata ainda pode ser eleito prefeito, deputado e, quem sabe, governador ou presidente. Este é o imenso Brasil das injustiças sociais, em todos os sentidos. Não são só os ignorantes, sem educação e sem cultura, que se comportam como bichos. Os bichos mais perigosos para matar são os bichos ricos, com o poder econômico e a certeza da impunidade, favorecidos por uma Justiça injusta, intencionalmente  ou pela omissão. 

Não podemos ter o raciocínio do preconceito achando que só os pobres, miseráveis e ignorantes matam. O atraso e as barbáries também estão dentro das chamadas famílias granfinas. Quem não se lembra do assassinato de Maristela Just, pelo marido, que ainda baleou um filho seu, deixando-o com sequela definitiva?' Não há nada que justifique matar uma pessoa, a não ser a defesa da própria vida. Mas, a vida humana, ao contrário de uma coca-cola ou uma lata de sardinhas roubadas, não tem valor algum. Quem mata, neste Brasil e neste Pernambuco, ainda pode virar prefeito e frequentar as vazias colunas sociais. Viva nossa Justiça!