Do jornalista Ricardo Kotscho:
Perderam para Lula
em 2002.
Perderam para Lula em 2006.
Perderam para Lula e Dilma em 2010.
Perderam para Lula e Haddad em 2012.
A aliança contra Lula e o PT montada pelos barões da
mídia reunidos no Instituto Millenium sofreu no domingo mais uma severa
derrota.
Eles simplesmente não aceitam até hoje que tenham
perdido o poder em 2002, quando assumiu um presidente da República fora do seu
controle, que não os consultava mais sobre a nomeação do ministro da Fazenda,
nem os convidava para saraus no Alvorada.
Pouco importa que nestes dez anos tenha melhorado a vida
da grande maioria dos brasileiros de todos os níveis sociais, inclusive a dos
empresários da mídia, resgatando milhões de brasileiros da pobreza e da
miséria, e dando início a um processo de distribuição de renda que mudou a cara
do País.
Lula e o PT continuam representando para eles o inimigo
a ser abatido. Pensaram que o grande momento tinha chegado este ano quando o
julgamento do mensalão foi marcado, como eles queriam, para coincidir com o
processo eleitoral.
Uma enxurada de capas de jornais e revistas com
quilômetros de textos criminalizando o PT e latifúndios de espaço sobre o
julgamento nos principais telejornais nos últimos três meses, todas as armas
foram colocadas à disposição da oposição para o cerco final ao ex-presidente,
mas a bala de prata deu chabu.
Na noite de domingo, quando foram anunciados os
resultados, a decepção deve ter sido grande nos salões da confraria do
Millenium, como dava para notar na indisfarçada expressão de derrota dos seus
principais porta-vozes, buscando explicações para o que aconteceu.
Passada a régua nos números, apesar de todos os ataques da
grande aliança formada pela mídia com os setores mais conservadores da
sociedade brasileira, o PT de Lula e Dilma saiu das urnas maior do que entrou,
como o grande vencedor desta eleição.
“PT — O maior vencedor” é o título do quadro publicado
pela Folha ao lado dos mapas das Eleições em todo o País. Segundo o jornal, o
PT “foi o campeão em dois dos mais importantes critérios. Além de ter sido o
mais votado no 1º turno (17,3 milhões), é o que irá governar para o maior
número de eleitores”.
De fato, com os resultados do segundo turno, o PT irá
governar cidades com 37,1 milhões de habitantes, onde vive 20% do eleitorado do
País. Com cidades habitadas por 30,6 milhões, o segundo colocado foi o PMDB,
principal partido da base aliada.
“Em relação aos resultados das eleições de 2008, o total
de eleitores governados por prefeitos petistas crescerá 29% em 2013, quando os
eleitos ontem e no primeiro turno deverão assumir”, contabiliza Ricardo
Mendonça no mesmo jornal.
Do outro lado, aconteceu exatamente o contrário: “Já os
partidos que fazem oposição ao governo Dilma Rousseff saem da eleição menores
do que entraram. Na comparação com 2008, PSDB, DEM e PPS, os três principais
oposicionistas, terão 309 prefeituras a menos. Puxados para baixo
principalmente pelo DEM, irão governar para 10,5 milhões de eleitores a menos”.
Curiosa foi a manchete encontrada pelo jornal “O Globo”
para esconder a vitória do PT: “Partidos ficam sem hegemonia nas capitais”. E
daí? Quando, em tempos recentes, algum partido teve hegemonia nas capitais? Só
me lembro da Arena, nos tempos da ditadura militar, que o jornal apoiou e
defendeu, quando não havia eleições diretas.
O que eles estarão preparando agora para 2014? Sem José
Serra, que perdeu de novo para um candidato do PT que nunca havia disputado uma
eleição, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, eleito com 55,57% dos
votos, terão que encontrar primeiro um novo candidato.
Ao bater de frente pela segunda vez seguida num “poste
do Lula”, o tucano preferido da mídia corre agora o risco de perder também a
carteira de motorista.
*Ricardo Kotscho foi Secretário
de Imprensa e Divulgação da Presidência da República no governo Luiz Inácio
Lula da Silva. É atualmente comentarista do Jornal da Record News e repórter
especial da revista Brasileiros.