Quando Eliseth Moreira Cardoso nasceu, em 1920, num subúrbio do Rio de Janeiro, o rádio no Brasil ainda engatinhava e a televisão demoraria 30 anos para chegar por esses lados dos trópicos. Filha de seresteiro e de uma dona de casa que gostava de cantar, o talento da menina despontou cedo. Aos 8 anos já cantarolava para os coleguinhas, que pagavam alguns tostões (moeda da época) para ouvi-la. No dia do seu aniversário de 16 anos, a futura estrela foi descoberta por um grande músico nacional, Jacob do Bandolim. Este a convidou para fazer um teste na Rádio Guanabara (em meados dos anos 30 o rádio já se popularizava no país). Mesmo contra a vontade do pai, apresentou-se ao lado de representantes da música nacional que hoje fazem parte da nossa história: Araci de Almeida, Marília Batista, Moreira da Silva, Noel Rosa e Vicente Celestino. Somente ser contemporâneo desses nomes, estar com eles num palco, já é um fato e tanto para uma menina que estava apenas começando.
Antes de consolidar seu nome como cantora, Eliseth Cardoso trabalhou como balconista, operária numa fábrica de sabão e cabeleireira. Casou em 1939, com Ari Valdez, no entanto a união dos dois durou pouco. A partir dos anos 40 passou a se dedicar mais a sua carreira, embora tendo que batalhar muito. Foi crooner de orquestra, exerceu atividades secundárias em boates e a partir de 45 passou a cantar no Salão Verde e a apresentar-se na Rádio Cruzeiro do Sul, ambos em São Paulo, onde a artista passou a morar.
Nos anos 50, com a chegada da televisão, Eliseth passou a se apresentar também nos programas de auditório da TV e a gravar seus primeiros discos como Braços Vazios, Canção de Amor e É Sempre Assim. O poeta, compositor e cantor Vinícius de Moraes convidou a artista, em 58, para gravar um disco com músicas suas e de Tom Jobim. Foi o álbum “Canção do Amor Demais, que segundo os críticos lançou um novo gênero musical no país, a Bossa Nova.
Na década de 60 chegou ao ápice de sua carreira, com apresentações nas rádios, emissoras de TV e nos festivais de música realizados na época. Apresentou-se com Jacob do Bandolim no Teatro João Caetano num show considerado histórico e ficou com o segundo lugar - interpretando Valsa do Amor - no I Festival de Música Brasileira, na antiga Record. A grande vencedora foi Elis Regina, com Arrastão.
Eliseth Cardoso era mulata, cantou além de bossa nova e samba autêntico o chamado “samba-canção”, sendo a grande intérprete deste gênero, em seu tempo, rivalizando com cantoras do porte de Ângela Maria, Dolores Duran e Maysa. Por sua voz maravilhosa, uma das melhores da música popular brasileira até hoje, a cantora carioca recebeu de Haroldo Costa (negro de muito talento, ligado ao mundo artístico, ao rádio e ao teatro) o apelido de A Divina. Este título caiu no gosto do público e da imprensa, marcando a vida da estrela para sempre.
Dentre as grandes interpretações de Eliseth Cardoso, gravadas na memória de milhões de brasileiros, que a ouviram crianças, adolescentes e hoje estão todos na faixa dos 50 anos, estão Carinhoso, As Rosas Não Falam, Preciso Aprender a Ser Só, Se Todos Fosse Iguais a Você e Chão de Estrelas. Todos clássicos da MPB, mas que poucos cantaram com o talento da inesquecível Divina.
Eliseth morreu em 1990, antes de completar 70 anos. Muitos já a esqueceram e pouquíssimos das novas gerações a conhecem. Talvez por conta disso tem um texto na internet, assinado apenas por Ronald, que faz uma grande observação: “Aqui, as novas gerações pouco conhecem Clementina de Jesus ou Elizeth Cardoso. O Brasil passa muito bem sem elas. Mas não se pode imaginar os Estados Unidos sem Billy Hollyday, Ella Fiztgerald ou Sarah Vaughan”. Em outras palavras: A nossa Divina era tão grandiosa quanto Ella ou Sarah, de pele escura, como elas, só que não é cultuada da mesma forma, talvez porque não temos ainda o nível cultural dos americanos e não preservamos tanto a memória do país, seja no campo artístico ou em qualquer outro.
Eliseth Moreira Cardoso, por certo, é um dos Grandes Nomes da Música Popular Brasileira de todos os tempos. (Fontes de consultas: biografia oficial da cantora na internet, enciclopédia do google, crítica assinada por Ronald, Cliquemusic e outros sites com dados a respeito da artista. O texto final é do autor do blog).
*Ao clicar no nome da artista, todo em maiúsculo, abaixo da foto, você acessa um vídeo do youtube com Simone (bem jovem) e Eliseth Cardoso, ainda em forma, cantando Barracão de Zinco. Há também um vídeo muito fácil de achar, também no youtube, em que Eliseth canta no Fantástico, fazendo uma homenagem a Maysa. Tem imagens das duas e é emocionante.
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