GOVERNO MUNICIPAL

GOVERNO MUNICIPAL
PREFEITURA DE GARANHUNS

MEMÓRIA POLÍTICA


1985. O PMDB ainda era um partido respeitado nacionalmente. Era a legenda da resitência democrática, que tinha lutado e conseguido sepultar 20 anos de ditadura militar.
Em Pernambuco, dois nomes se destacavam no grêmio peemedebista: Marcos Freire, um grande orador, um homem admirado pelas mulheres devido à beleza de galã de artista de cinema; e Jarbas Vasconcelos, um político de discurso forte, conhecido pela coragem e coerência.
Freire, depois de perder a eleição de governador para Roberto Magalhães, em 1982, graças ao artifício do voto vinculado, criado pelos militares com o auxílio de Marco Maciel, em 85 se alia aos adversários e apóia Sérgio Murilo Santa Cruz como candidato à prefeitura do Recife.
O partido de dividiu e Jarbas, com o aval de Arraes, se filia ao PSB com o objetivo de também disputar a prefeitura da capital.
A campanha toma conta das ruas e Sérgio Murilo, contando com o apoio das máquinas do Governo Estadual e da Prefeitura, à frente Roberto Magalhães, Gustavo Krause, Marco Maciel e Marcos Freire, ganha a preferência popular e lidera desde o começo.
Faltando cerca de 15 dias para a realização do pleito, o peemedebista tem cerca de 18 pontos de vantagem contra o socialista. Poucos acreditam numa reversão do quadro.
É quando surge um cadáver e muda o rumo da história.
Sérgio Murilo, tempos atrás, havia assassinado um homem na cidade de Carpina, seu principal reduto eleitoral para os vários mandatos de deputado que exerceu.
Panfletos inundam as ruas da cidade politizada, o assunto é comentado em cada esquina.
Então Jarbas Vasconcelos, faltando duas semanas para a eleição, disse num comício em Boa Viagem uma frase que dificilmente será esquecida: "Recife não pode ter um assassino na prefeitura".
A campanha ascendente do advogado Sérgio Murilo estanca, Jarbas cresce, é reconhecido como "herói". Pelo passado, pela coragem, por enfrentar a luta desigual. O PSB inclusive tinha muito menos tempo na propaganda eleitoral do rádio e TV e era massacrado pelo PMDB diariamente.
Mas a revelação inesperada, a forma como Jarbas a usou no final da campanha foram um duro golpe na aliança de uma parte do PMDB com o PDS. Quando as urnas foram abertas, o socialista vence por uma diferença de apenas 25 mil votos, num colégio eleitoral que hoje passa de um milhão de pessoas.
Dois anos depois, já prefeito querido pelo povo do Recife, Jarbas Vasconcelos ajuda Arraes a voltar ao Palácio das Princesas, de onde tinha sido apeado pelos golpistas de 1964.
Marcos Freire foi presidente da Caixa Econômica e ministro da Reforma Agrária do governo da Nova República, à frente José Sarney e Ulisses Guimarães. O senador da frase "sem medo e sem ódio" terminaria sem realizar seu sonho de governar Pernambuco, pois morreu num desastre de avião.
Jarbas foi prefeito mais uma vez, governador em duas oportunidades e hoje é senador da República.
Arraes ainda teve direito a um terceiro mandato, morreu mitificado pelo povo e seu neto, Eduardo Campos, hoje está no seu lugar, no Palácio das Princesas.
Quanto a Sérgio Murilo Santa Cruz, depois da derrota para Jarbas não conseguiu mais nem renovar seu mandato de deputado. Sumiu das páginas do jornais, foi esquecido pela população, parece ter sido tragado pelas urnas de 85.
Só ontem lendo uma nota de dois parágrafos do jornalista Magno Martins, fui informado da morte do ex-deputado Sérgio Murilo Santa Cruz. Estava com 77 anos e sofria do mal de parkinson e de alzheimer.
Acredito que Sérgio começou a definhar naquela derrota de 25 anos atrás. A derrota eleitoral naquelas circunstâncias, com o nome de assassino ecoando no Grande Recife e no Estado inteiro não deve ter sido fácil.
Jarbas está aí, ainda forte e respeitado. Outros já foram, como mártires. Sérgio Murilo partiu em silêncio e muitos hoje nem lembram dessa história toda, que agora está sendo recontada.

(Na foto acima temos a cidade de Carpina, na Zona da Mata de Pernambuco, onde Sérgio Murilo foi sepultado. Infelizmente não encontramos nenhuma imagem do ex-parlamentar nem no JC, Folha, Diario de Pernambuco ou mesmo no google).

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