No
dia em que Roberto Carlos completa 80 anos de idade, o professor garanhuense
Cláudio Gonçalves libera um trecho inédito da biografia que está escrevendo
sobre o artista de Cachoeiro de Itapemirim.
Num estilo delicioso, Cláudio nos leva a
uma viagem no tempo, narrando com maestria um momento da infância de quem no
futuro seria considerado Rei. Roberto, então, era chamado de Zunga ou
Zunguinha.
O livro do professor tem o título
provisório de “Roberto Carlos Pra Sempre”.
No dia do aniversário do cantor, quem
ganha o presente é o leitor (a) deste blog.
É com você, Cláudio:
Os primeiros anos de sua
infância foram mágicos. Naquela casa simples e modesta, a única preocupação do
menino Roberto Carlos era ser feliz. O seu lugar preferido da casa era o
quintal, o seu paraíso, mil brincadeiras, mil amiguinhos. A primeira coisa
fazia depois de acordar era dar uma voltinha, visitar seu cachorrinho, sentar
perto de uma árvore que dava uma fruta engraçada, que soltava um leite
pegajoso. Mas o passeio não durava muito: dali a pouco, dona Laura chamava para
escovar os dentes e tomar café com leite.
Naquele lar seguro e repleto
de amor, o pequeno Zunguinha começou a ter moldadas as características da sua
personalidade: a sensibilidade, o espírito solidário, o carinho pelas plantas e
animais, e a intensa religiosidade. Laura era católica fervorosa, e Robertino
espírita, ambos optaram por não batizarem Roberto, mais tarde o filho
escolheria livremente sua religião. Laura apenas o ofereceu por voto a Nossa
Senhora da Penha. O quarto dele e dos irmãos era todo azul com três camas. A
dele era menor e ficava perto da janela que dava para a rua. Sobre a cabeceira
de sua cama havia um crucifixo. Muito religioso desde pequeno, não dormia sem
rezar.
Dona Laura nunca imaginava
que o caçula fosse dar trabalho, mais que os outros três filhos juntos.
Debruçada sobre a máquina de costura aos sobressaltos, interrompendo o trabalho
a cada meia hora, preocupada com o filho Zunguinha pulando e brincando às
margens do rio Itapemirim. O rio era o centro das atenções da meninada. O dia
inteiro ficava povoado de garotos com suas pequenas canoas e varas de pescar. E
Zunguinha era o mais animado entre eles. Quando não estava no rio, suas duas
amigas eram Vilminha e Eunice Solino, a Fifinha, que o acompanhou em toda sua
infância. Quando ele ganhava docinhos apressava-se em guardar a parte dela,
mais tarde, já no curso primário, não conseguia fazer suas lições se não
estivessem juntos.
Mas já com cinco anos, não
lhe bastava a companhia das duas meninas, não demorou muito descobriu um morro
atrás de sua casa, onde a garotada escorregava encosta abaixo com pedações de
papelão e carrinho de madeira. A brincadeira passou a ser sua paixão. Lauro e
Carlos Alberto se encarregavam de fazer um carrinho, que geralmente descia o
morro com outros meninos montados. Era tanta velocidade que atravessavam a rua
e paravam na metade do outro morro em frente.
A brincadeira ficava mais perigosa quando Zunga descia o alto do
barranco com a bicicleta de Lauro, sem que seus pés alcançassem os pedais. Não
era preciso nem avião, ele voava mesmo ali no chão.
Sempre alegre e
brincalhão, como toda criança na tenra idade, Roberto passou a viver rodeados
de amigos aproveitando o melhor da vida interiorana. Adorava cada recanto de
Cachoeiro: os antigos casarões, as ruas pacatas e arborizadas, e principalmente
as festas de carnavais quando as ruas eram enfeitadas por Zé Cláudio. Em
companhia de seus irmãos e dos amigos João Francisco, Edinho, Jeferson, Paulo
Ney, Vilma e Eunice Solino, a Fifinha. Roberto e os colegas só queriam duas
coisas: brincar e andar livremente pelas ruas com jeito de adulto. Roberto
chegou a fundar um clube com um nome engraçadíssimo, Gosmeci. O nome do clube
não queria dizer nada e a finalidade também não existia. A turminha perdia a
noção do tempo brincando de rolar pneus, pique-esconde, empinar pipas, jogar bolinha
de gude, pião, futebol com bola de meia no pátio da Igreja de São Pedro e no
campinho no Morro do Farias, banhando-se nas águas do Itapemirim e pulando nas
poças de águas depois da chuva. O momento mais tranquilo era a hora da troca de
gibis, aquela pilha embaixo do braço: esse eu já li, aquele não. Você quer
trocar um Bolinha e um Brucutu do mês passado por um Fantasma da semana
passada?
Todas aquelas
diversões costumeiras atravessavam o dia: brincadeiras, bagunças, comilanças e
aventuras, até que as luzes se apagassem no Recanto.
Parabéns professor Cláudio!
ResponderExcluirExcelente este trecho do livro do eterno Rei da música brasileira:Roberto Carlos.👍👏👏👏👏👏👏👏