Há homens que não nasceram
para morrer. São aqueles que construíram na terra um legado de tal magnitude
que nada, nem o tempo, pode sepultar. Assim, continuam vivos no portal da
história e nos corações dos que com eles compartilharam algum tipo de relacionamento,
próximo ou à distância. Um desses homens responde pelo nome de Eduardo Henrique
Accioly Campos, que neste dia 10 de agosto completaria 55 anos aqui na terra.
Conheci pessoalmente Eduardo
num encontro casual. Como deputado estadual pela Paraíba, fui à Assembleia
Legislativa de Pernambuco para um compromisso oficial, em 1996. Ele era
secretário estadual da Fazenda e lá estava também por um compromisso oficial.
Como já fizera parte da Casa, transitava com desenvoltura pelo plenário. Fomos
apresentados e logo percebi, pelo modo como cumprimentava a todos, a figura
carismática que era.
Quando soube que eu era irmão
de Isolda e Ítalo, parecia me conhecer há anos. Lembrei-lhe que participei do
evento que foi organizado no Recife para celebrar a volta do exílio do seu avô
Miguel Arraes (1979). Eu estava na avenida Guararapes e os cartazes espalhados
pelo ambiente traziam essa frase própria da criatividade pernambucana:
Arrastaí! O destino, porém, nos reservou um reencontro na Câmara dos Deputados,
em 1999.
Eu havia sido eleito para o
primeiro mandato e Eduardo, reeleito deputado federal. Pelo menos uma vez por
semana nós jantávamos, quase sempre no Piantella, na companhia de Milton
Coelho, hoje chefe de Gabinete do governador Paulo câmara, e do então deputado Aldo Rebello. Sentar numa
mesa com Eduardo era algo muito prazeroso e momento de descontração. Ora
discutíamos teses sobre o Brasil, ora contávamos histórias sobre as campanhas
eleitorais, o lado pitoresco de alguns eleitores e coisas engraçadas do folclore
político.
Saí da Câmara em 2007, ano em
que Eduardo tomou posse como governador de Pernambuco. Nossos encontros em
Brasília, onde permaneci como Procurador do Estado da Paraíba e advogado,
continuaram frequentes. No início de 2010, ele me chamou para uma conversa.
Queria que eu fosse candidato a Deputado Federal pelo PSB. Disse que precisava
de um parlamentar com o meu perfil para atuar na Comissão de Justiça, da qual
eu tinha siso presidente. Fiquei honrado pelo convite, mas não levei adiante o
projeto.
Eduardo brilhou por onde
passou. Como deputado federal, era um dos cabeças do Congresso Nacional e foi
autor de inúmeras proposições relevantes, a exemplo da Lei de Responsabilidade
Social, do uso de recursos do FGTS para pagamento de curso superior do trabalhador
e seus dependentes e o que prevê um diferencial no FPM para as cidades
brasileiras que possuam acervo tombado pelo IPHAN. Sua voz, quando ecoava no
plenário, era ouvida com respeito e atenção.
Como governador de
Pernambuco, saiu consagrado em dois mandatos, deixou muitas marcas, e elegeu o
sucessor, o atual governador Paulo Câmara. Ministro da Ciência e Tecnologia,
articulou a aprovação, entre outros projetos relevantes, da Lei de Inovação
Tecnológica, revisou o programa espacial brasileiro e o programa nuclear e
conseguiu aprovar o programa de biossegurança, numa demonstração da ampla visão
que tinha do Brasil e do mundo.
Aquele fatídico 13 de agosto
de 2014 tirou Eduardo do nosso convívio e provocou comoção em Pernambuco e em
cada recanto do nosso país. Ainda hoje custo a acreditar na queda daquela
aeronave. Ali estava não apenas o cidadão, mas uma opção real para presidente
da República. O último encontro que tive com ele e Renata foi no carnaval de
2014, no Galo da Madrugada, Camarote da Globo. Resta-nos fazer coro com
Guimarães Rosa: Eduardo não morreu, ficou encantado.
*Advogado, Procurador, ex-Deputado Federal e ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.
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