Augusto Aras, Procurador Geral da República
Por Homero Fonseca*
Uma
cronologia de um maio fantasmagórico (que ainda não terminou):
Dia 7 de maio: acompanhado de
45 representantes da indústria, o presidente da República invadiu o Supremo
Tribunal Federal para pressionar pelo fim da quarentena.
Dia 22 de maio: depois de o
ministro do STF, Celso de Melo, encaminhar protocolarmente à Procuradoria Geral
da República o pedido de parlamentares oposicionistas de apreensão do seu
celular, Bolsonaro bradou que “jamais o entregaria”.
Dia 25 de maio: Bolsonaro
invade a Procuradoria Geral da República às vésperas do parecer de Augusto Aras
no inquérito sobre a denúncia de interferência na Polícia Federal, a pretexto
de parabenizar um subprocurador.
Sai 25 de maio: no final da
tarde, lançou uma nota em que afirma: “Por questão de Justiça, acredito no
arquivamento natural do Inquérito que motivou a divulgação do vídeo.”
Antes e no intervalo dessas
datas, o chefe do Executivo compareceu em pessoa a vários atos públicos pedindo
o fechamento do Congresso e do STF e uma intervenção militar.
A mídia não interliga
devidamente essas ações, que claramente apontam numa só direção: a do
totalitarismo. (Ditadura total, pra quem não entende.) Lembrando que o filho 02
já defendeu um novo AI-5 e avaliou (ameaçou) que para fechar o STF bastam um
jipe, um cabo e um soldado. E Bolsonaro, todo mundo tá careca de saber suas
convicções “democráticas”.
Esses fatos dispensariam
interpretação, não fosse a manipulação da maioria da mídia (caso à parte é a
Rede Globo alinhada até a alma à candidatura de Sérgio Moro/2022). A imprensa
faz que não está entendendo a escalada, apresentando estes fatos de forma
fragmentária, como se fossem naturais.
Não dá a devida dimensão a cada uma
dessas ações e evita interligá-las, como se fossem casos isolados. Simula não
perceber a intimidação ao PGR na “visita” de hoje sob o ridículo pretexto de
parabenizar um subprocurador que tomava posse. E sobre o rotundo recado de
“arquivamento natural” do inquérito pelo PGR, jornalistas como Vera Magalhães e
Fernando Molica (CNN) não enxergaram a ameaça escancarada e ressaltaram a
sobriedade (?) do texto.
O presidente emite, com esses
movimentos aparentemente disparatados, poderosos gestos simbólicos mostrando ao
povo quem é que manda. Atropela ritualisticamente as instituições democráticas.
E entrincheira-se numa posição de insubordinação e desacato às leis. No caso do
celular, berrando com todas as letras que não cumprirá uma eventual decisão
judicial. Em relação ao parecer do PGR, ditando seus termos: arquivamento
“natural”, ou seja, qualquer outro parecer será antinatural e, portanto,
inaceitável.
O general Heleno já alertou
com a sutileza que lhe é peculiar nas “consequências imprevisíveis” do
inquérito. Outros ministros militares se manifestaram na mesma direção. Dezenas
de oficiais da reserva lançaram um manifesto, ontem, ameaçando com uma “guerra
civil”. Contra quem? Contra o STF (grafado no manifesto várias vezes com letras
minúsculas)? A guerrilha do Araguaia? Os esfarrapados de Canudos? Não existe
inimigo. Mas para o neofascismo tupiniquim todo mundo que não concorda com a
cartilha bolsonarista é comunista.
A esquerda inteira, incluindo
Luís Inácio Lula da Silva, parece não estar à altura do momento histórico,
distraída com suas divergências eleitorais, sem farejar que talvez não haja
eleição em 2022, nem nos próximos 25 anos.
Tal como 1968 estava para 1964
(com a edição do AI-5), 2020 está se configurando para 2016: um golpe dentro do
golpe.
Espero estar errado.
Saudades de Homero Fonseca, um Mestre do Jornalismo Pernambucano, Nordestino, Brasileiro, pelo qual tive a felicidade de ser comandado como repórter da assessoria de imprensa da campanha da Frente Popular de Pernambuco, na caminhada de Miguel Arraes de Alencar ao Governo de Pernambuco, quando, também, dirigi o seu guia de rádio. Pois bem, Homero Fonseca, também Excelente Escritor, conseguiu, como um perito de anatomia, dissecar com perfeição as vísceras e o cerebelo dos fascistas de plantão e da hipocrisia da mídia promíscua e venal brasileira.
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