Por Gustavo Krause
A demissão do Ministro Mandetta ocorreu na segunda-feira 06/04. O ritual
consumado confirma: a teocracia é o novo sistema de governo brasileiro,
fundamentado na encarnação da divindade no governante. O Presidente se acha
investido nesses poderes.
Primeiro sinal: o candidato se apresentou como Salvador/Messias, eleito
por parcela do eleitorado que acreditou e outra que votou no “menos pior”.
Segundo sinal aconteceu quando o candidato sofreu grave atentado.
Sobreviveu: milagre e predestinação.
Terceiro sinal veio de uma atitude de fé respeitável: utilizar o jejum e
a oração como remédios para matar um vírus ainda não vencido pela ciência.
Trata-se de gesto de solidariedade humana que deve ficar circunscrito à
religiosidade individual.
Quarto sinal: o chefe de Estado, o líder tem o dever de, no exercício do
poder, pacificar, conciliar e formar consensos, com vistas no futuro do País.
Mas não é Profeta. Nem tem o dom da Graça para conduzir o povo à Terra
Prometida.
No entanto, o Presidente revelou aos olhos de uma nação perplexa que, ao
longo de quinze meses, gastou tempo, energia e confiança ao criar conflitos
pessoais, nacionais, institucionais e internacionais. Sem contar com o clima
permanente de beligerância contra inimigos diabólicos, imaginários, e agora,
invisíveis. Ressalte-se, ainda, que a narrativa de Mito não se confunde com os
personagens simbólicos dos povos e sim, literalmente, com a mentira que se
apropria dos seres humanos como enfermidade: a mitomania.
Mito, o poeta Fernando Pessoa define como “o nada que é tudo”.
O quinto sinal vem da Síndrome de Caim que, na narrativa bíblica, mata
seu irmão Abel por inveja, levando às últimas consequências a frustração do
desejo de ser reconhecido pelos atributos de sua própria vítima.
O destino de Mandetta, o herege, estava selado: arder nas fogueiras
inquisitoriais pelas suas reconhecidas virtudes e não pelas suas possíveis
falhas. A propósito, a mais grave falha de Mandetta foi conduzir com acertos,
sensatez, racionalidade e fraternidade, a tarefa gigantesca de salvar o máximo
de vidas, ameaçadas por uma calamidade mundial. Mal sabia o Ministro da Saúde
que estaria cometendo um crime imperdoável, aos olhos da presidência: tornou-se
admirado pela população. Para isso, não há perdão.
Ministros, o recado está dado. Cuidado com a avaliação das pesquisas de
opinião: o teto é a mediocridade turbinada por uma personalidade a merecer
devida atenção dos especialistas em patologias comportamentais.
*Artigo reproduzido do Jornal do Commercio do Recife. Na foto do NE-10 o ex-governador de Pernambuco com a filha, deputada estadual Priscila Krause.
*Gustavo Krause é político e advogado. Foi ministro da
Fazenda do governo Itamar Franco, ministro do Desenvolvimento Urbano e do Meio
Ambiente do governo Fernando Henrique, prefeito do Recife, vice-governador e governador de Pernambuco.
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