Por Junior Almeida
Existia no início dos anos oitenta um grupo de abnegadas senhoras
em uma cidade da região de Garanhuns que, como tantas outras católicas mundo
afora, se reuniam diariamente para rezar o terço. Cada dia numa casa diferente,
mas, sempre no mesmo horário, às 18 horas, lá estavam elas.
Cada mistério era rezado em oferecimento de acordo com o seu dia.
Como ainda não existiam os mistérios luminosos, introduzidos na oração pelo
Papa João Paulo II em outubro de 2002, o fieis contemplavam os mistérios
gozosos, dolorosos e gloriosos, e também rezavam pela intenção de aniversário
de nascimento de um amigo, bodas de outro, pela saúde de um vizinho e claro,
pelas almas dos falecidos.
Sessões extras do terço eram rezadas, como ainda hoje são, nas
sentinelas dos conhecidos. Um velório de um bom cristão não poderia e não pode
faltar a reza do terço, procedimento normal dos católicos. A curiosidade dessas
piedosas senhoras, é que elas também rezavam pelas pessoas que nem ao menos
conheciam, pelo menos pessoalmente, mas isso também não é de se estranhar, pois
é bíblico que “se deve fazer o bem sem olhar a quem,” mas, o problema, se é que
isso é problema, é que as rezadeiras “debulhavam” o terço em intenção das
pessoas que morriam nos enredos das novelas.
Isso mesmo. Se determinado personagem das muitas novelas diárias tivesse
passado pro outro lado em um acidente de carro, de morte morrida ou mesmo de
morte matada, mesmo que de mentirinha, as mulheres rezavam pela sua alma e pelo
consolo de suas famílias. Naquela época até que o número de programas desse
tipo era menor, imaginem hoje em dia quantas novelas para morrer gente e quem
sabe sobrecarregar as senhoras.
Pois bem. As senhorinhas, cheias de boas intenções, viam as
histórias na televisão e achavam que aquilo tudo era verdade. Quanta inocência.
O tempo passou e depois de quase quatro décadas a competentíssima
Rede Globo continua a produzir suas novelas, com produções cada vez mais caras
e tecnológicas. Já filmaram fora do país, já utilizaram recursos hollywoodianos
e tudo que podiam em nome da arte e das ilusões, que continuam a encantar o
povo brasileiro.
E as senhorinhas rezadeiras, será que ainda existem? Claro que
sim, só que não é bem rezar o terço que essas pessoas se ocupam hoje em dia. As
“inocentes beatas” atuais bateram panelas contra a corrupção, que só vale se for
contra o PT, foram às ruas exigir a saída de uma presidente eleita
democraticamente, mesmo que seja para colocar em seu lugar um grupo de
corruptos e até se fantasiaram de bandeira com a camisa da seleção brasileira,
que tem na CBF uma das instituições mais ligadas a corrupção no país.
Os telespectadores fiéis de hoje em dia acham que é uma boa para eles a
reforma da previdência e a reforma trabalhista, pois afinal a televisão diz que
é. Eles, os telespectadores fiéis, têm certeza que o ex-presidente Lula é o
chefe de uma organização criminosa, que o país tem quase 14 milhões de desempregados
por que o Partido dos Trabalhadores foi que tirou o emprego desse povo todo e
que quebrou o Brasil. Eles também juram que os artistas e intelectuais que
defendem a democracia ferida de morte e o modo de governar que venceu quatro eleições presidenciais, eram mantidos spelas “tetas” estatais, através da Lei Rouanet.
Os fiéis telespectadores acham que o Doutor Moro é um herói, quase
um deus. Acham que quem reclama dos seus excessos, é por que não é patriota, é
por que é mortadela, petralha, esquerdopata, que têm bandidos de estimação e vários outros adjetivos bem depreciativos.
Os “beatos” de hoje em dia ao invés de se apiedar com sofrimentos
alheios e pedir a Deus por essas pessoas, aplaudem quando um bandido é morto, jogando
na mesma panela um ladrão de bancos ou um pai de família que roubou um pacote
de leite em um supermercado por que seu filho está com fome, afinal de contas
bandido bom é bandido morto. Bandidos do colarinho branco que não sejam do PT, não
vêm ao caso, podem gozar a vida sem serem incomodados.
Dizem hoje em dia que “somos todos Moro”, mas esquecem que já
foram todos Cunha, todos Aécio, todos Joaquim Barbosa, todos Collor e nem se dão conta que serão todos que a mídia familiar brasileira
escolha como heróis do povo.
Os fiéis de hoje em dia não se dão ao trabalho de
observar a sua volta, de como está o comércio por onde andam, de como era a
educação antes, do que comem hoje e o que comiam tempos atrás. Não observam se
as pessoas progrediram ou não, se o filho daquele agricultor, trabalhador
braçal ou doméstico fez curso superior.
Pensar para muitos dá trabalho, pois parece que as
pessoas se acomodam e deixam que a mídia e os profissionais que ganham a vida formando opiniões pensem por eles. Infelizmente.
EXCELENTE!!! ADOREI.
ResponderExcluirBravo Bravo bravo! Texto maravilhoso!
ResponderExcluirInteligentissimo. Parabéns Júnior, gosto muito de suas publicações.
Bravo Bravo bravo! Texto maravilhoso!
ResponderExcluirInteligentissimo. Parabéns Júnior, gosto muito de suas publicações.