Por Jarid Arraes - Do Portal Fórum
No último sábadi o portal Tribuna de Minas repercutiu algo de forma, no
mínimo, intrigante: apresentando o Bloco chamado “Domésticas de Luxo” com
entusiasmo, o portal deu à matéria o título de “Pretinhas em contos de fada”,
explicando que os participantes do bloco – tradicionalmente homens brancos -,
além de se fantasiarem de mulheres negras, ainda adicionavam à “fantasia”
roupas de princesas de contos de fada, como a Branca de Neve.
É chocante que o
racismo escrachado, debochado e explícito seja tratado como uma tradição
divertida que tem mérito em ser preservada. Pior, é revoltante perceber que a
população de Juiz de Fora – onde o bloco acontece – considera tão natural e
adequado o fato de que homens brancos se vistam de mulheres negras, pintando o
rosto com tinta preta, vestindo perucas que imitam cabelos crespos, exagerando
no batom vermelho para desenhar lábios muito grossos e fazendo uso de
enchimentos para exibir bundas falsas de tamanhos enormes.
O bloco Domésticas
de Luxo é um verdadeiro show de horrores: consegue reunir racismo e machismo
numa mistura perversa que está a serviço de uma parcela altamente privilegiada
da população. E eles se divertem muito: dançam, bebem, gargalham – e até mesmo
levam crianças para assistir e participar. Esse espetáculo tem a cara do
Brasil; um país extremamente racista, que trata os cidadãos negros como objetos
de escárnio, coisas sem valor, sem o status de seres humanos e sem direito ao
mínimo respeito.
O jornal Tribuna de
Minas faz ainda pior, pois respalda a prática racista, apresenta todo o show
bizarro como algo divertido, como um programa para ser feito em família. “As
pretinhas mais famosas de Juiz de Fora caem na folia”, escreveu Marisa Loures.
Quais pretinhas? Os homens brancos que utilizam estereótipos relacionados às
mulheres negras como válvula de escape para expressar todo o racismo que
escondem nos demais dias do ano?
Nenhum argumento em
defesa desse bloco pode ser aceito, nem mesmo o fato de que o bloco promove
doações de sangue ou de leite materno. Nenhuma ajuda pode ser oferecida a um
grupo se isso é feito às custas da degradação de outro grupo. As mulheres
negras reais têm direito de “cair na folia” com a garantia de que serão
respeitadas; ou será que o assédio, o racismo e a violência são o que Juiz de
Fora tem destinado a elas?
O mundo caminha para
frente, avançando no sentido de mudanças sociais para garantir a dignidade e os
direitos de todas as pessoas, não somente das pessoas brancas do gênero
masculino. Nosso país não deve mais abrir espaço para algo tão escabroso como
esse bloco “Domésticas de Luxo”. O bloco tem que acabar e as pessoas que
participam dele devem ser responsabilizadas pela hostilização e deboche
cometido contra mulheres negras. Isso é racismo, é herança escravocrata, e
precisa ter fim. Para todos aqueles que trabalham por uma sociedade onde o
racismo e a misoginia não mais prevaleçam, o repúdio contra esse bloco é a
atitude mínima a ser tomada.
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