Meu pai ensinou que se pode ser comerciante e
honesto ao mesmo tempo. Numa vila, uma cidade pequena, foi empregado e depois
conseguiu seu próprio negócio. Bodega, depois venda, no final um mercadinho.
Trabalhando de domingo a domingo, sem direito a luxos ou farras, criou cinco
filhos. Fez mais que isso: assim que pôde mandou seus meninos para estudar em
Garanhuns e no maior esforço os matriculou em bons colégios. Diocesano, Quinze
de Novembro. De um a gente sempre lembra, o outro todo mundo sabe que é um Alto
Padrão de Civismo e de Glória.
Minha mãe fez a sua parte. Como boa esposa tradicional, ajudava em casa e também no pequeno comércio. Ela mesma costurava a roupa dos filhos, economizava nas passagens, nos sapatos ou sandálias e até nas batatas, se necessário
Os dois, vivendo aquele pequeno mundo, enxergaram longe. O primeiro filho terminou juiz do trabalho e hoje é desembargador. Vive sem apertos e é um cidadão correto, que soube criar os próprios filhos.
O segundo é agrônomo, serve ao Estado há muitos anos e ainda desenvolve uma atividade particular para completar o orçamento. Já fez 60 anos, mas como trabalha. Nunca tive conhecimento de um ato desonesto seu. Educou bem suas meninas e seu menino e aos domingos não deixa de ir à igreja.
O terceiro é jornalista e além do mais torcedor do Náutico. Já passou por muitas nesta vida, mas tem em comum com os irmãos os exemplos do pai e da mãe: sentimento de justiça e certeza de que tudo deve ser conquistado com o suor do seu rosto.
Os dois mais novos, uma mulher e outro homem, não são muito diferentes. Vivem modestamente, fazem malabarismo para sobreviver e se esforçam para ter sempre a ficha limpa.
Meu pai não deixou bens para ninguém. Deixou um nome. Passados 14 anos que Deus o chamou ainda encontro muitas pessoas em Garanhuns, Capoeiras ou Caetés dizendo com todas as letras em destaque: “Seu Euclides era um homem direito”.
Fico feliz por ser assim. Conheço gente que já morreu, mas nem a ida para o outro lado limpou o nome. Escuto pronunciarem abertamente: “Aquilo era um ladrão”.
Deus me livre de um negócio desses. Sinceramente, admiro pobres que mesmo precisando não são capazes de pegar do alheio nem mesmo uma laranja.
Para os meus filhos, vou deixar menos do que meu pai deixou pra nós. Tenho pelo menos o consolo de que eles não vão ter do que se envergonhar. Saberão que me esforcei bastante para fazer de todos gente. Tentei lhes dar educação e ensinei o que aprendi: que devem ser corretos em tudo.
Todos passam, todos um dia são chamados. No futuro, seremos lembrados não tantos pelos bens que acumulamos, mas pelas atitudes. Alguns serão chamados de direitos, como meu pai, outros carregarão má fama mesmo depois de sepultados, jogando desconfiança sobre os descendentes.
Sou dos que não gostam nem de avançar o sinal de trânsito. Gosto das coisas corretas. Não sou santo, claro, apenas tento estar do lado certo.
Não importa que muitos se deem bem praticando o errado. Quero que meus filhos escutem de mim, daqui a muitos anos, o que hoje eu escuto do meu pai. Tenho orgulho dele e da minha mãe, e do que eles me ensinaram.
*Quero dedicar esta crônica não só a meu pai, que está em outro plano, mas a todos os pais. E também aos filhos que sabem valorizar seu "querido, velho e amigo".
Roberto: Sou testemunha e subscrevo sem vacilação tudo o que diz sobre "Seu Euclides"
ResponderExcluirGrande abraço de Ivan Rodrigues
Antes de mais nada eu gostaria parabeniza-lo e a todos os leitores de seu blog, pelo dia dos pais.
ResponderExcluirNão posso deixar de fazer uma pequena crítica. La vai: nunca ouvi falar que comerciante é sinônimo de corrupto, como parece ser a insinuação do inicio do seu texto, talvez tenha sido escrito de maneira desapercebida e involuntária, mas isso demonstra um fundo de doutrinação esquerdista anti-burguesia na sua argumentação. Pra mim qualquer cidadão que trabalha como autônomo sem depender de governo para seu sustento é antes de tudo um Herói. Principalmente no país onde os verdadeiros corruptos querem extorqui-los diariamente através de cobranças de taxas, impostos, contribuições e propinas. Essas pessoas como seu saudoso pai, no mundo esquerdista, recebem o rótulo de Burguês, que seria o cidadão que busca o lucro para conseguir o seu sustento. Veja que o lucro parece ser um pecado mortal, para essas pessoas, porém esse ódio só se mantem quando os outros estão lucrando. Quando o esquerdista invejoso passa a receber lucros geralmente mamando nas tetas do governo, este deixa de ser um pecado mortal. Logo proponho que todos devam rever seu pensamento urgentemente no tocante a essa abordagem ideológica esquerdista de que todo mundo que busca lucrar é bandido, pois o lucro é nada mais do que o resultado natural e almejado por alguém que empenha seu trabalho e esforço pessoal em alguma coisa, e querer que toda a sociedade demonize isso é um problema grave que pode prejudicar o país inteiro mais na frente.
Então fica aqui novamente, meus parabéns a todos os pais, principalmente aos honestos que dão duro para sustentar sua família com seu suor sem depender de governo, mas parabéns aos desonestos também, mas por serem pais e não por serem safados. RSRSRSRSSRS
Não quis generalizar e dizer que todo comerciante é desonesto. Muitos contribuem com seu trabalho, geram emprego e se mantêm íntegros. Mas não é novidade pra ninguém que outros enricam no comércio usando métodos condenáveis. E isso não têm nada a ver com ideologia. É uma realidade. Logicamente não acontece só no Brasil. Existe até um ditado popular que diz: "Quem não rouba nem herda, enrica uma merda". Essas frases populares sempre têm muito de verdade. Obrigado pelo comentário.
ResponderExcluirParabéns pela crônica, com muito zelo o senhor relatou um pouco da vida de esforços que teve o seu Amado Pai, para deixar-lhe o bem maior, que um homem pode ter, que é a sua HONRA... Essa palavra curta de cinco letras, a palavra pode ser pequena mais o seu significado é do tamanho do caráter de um homem.
ResponderExcluirA HONRA é herdada, já o CARÁTER é moldado, não se nasce com ele, vamos o lapidando a cada dia, no inicio uma pedra bruta sem brilho, mais com o passar do tempo e as atitudes, e com a ajuda daqueles que tudo fizeram para sermos de boa índole, eis que surge algo de BRILHO raro e de BELEZA incomparável, assim são as pessoas que se esforçam para ter uma vida digna e honrosa, e Assim o vejo Sr° Roberto.
Só o conheço aqui do blog, mais o admiro, pelo seu trabalho jornalístico imparcial, e sempre com uma pitada de sentimentalismo e nostalgia, com assuntos do cotidiano, em uma linguagem simples e de fácil entendimento a pessoas assim como eu, que não tem formação acadêmica, para talvez fazer uma critica tão INOPORTUNA, e com tamanha distorção de assunto, como fez o cidadão ai acima, afinal a crônica trata de uma HOMENAGEM e não de ofensa as pessoas que ganham a vida honestamente, pois que assim o faz, “digo é honesto” não tem que se preocupar com isto, pois as suas atitudes já falam por si só!
Feliz Dia Dos Pais e que Deus nos Abençoe!
Atenciosamente: Antonio Sérgio
Caro Roberto,
ResponderExcluirNão tive assim muito tempo de convívio com o meu próprio pai, entretanto, o seu pai foi meu padrinho de batismo; um segundo pai ou um pai em segundo lugar e, no campo da fé, o vínculo entre o padrinho (a madrinha) e o (a) afilhado(a) vem chamado de parentesco espiritual. Sem me ater aos cálculos, sei que seu pai e sua mãe tiveram muitos afilhados. Parabéns aos pais que conseguiram deixar aos filhos, netos, bisnetos e afilhados o legado de uma vida íntegra e vivida na honestidade.
Cleilton (d. Hugo,monge-beneditino)
Roberto sem saber se cabia um comentário feito ao seu texto como foi feito e acima citado, quero antes de tudo parabenizar você como pai, e não só como pai como uma verdadeiro exemplo de pai e homem direito, assim como você tem de quem se orgulhar, seu velho e conhecido pai, eu também sou filho de homem que se foi mas é como se estivesse vivo, tanto dentro de mim, na minha formação como cidadão, assim como nas ruas por onde eu ando, sou filho de do finado "JOÃO DA BANCA", e hoje passados 18 anos de sua morte não encontrei ninguém para falar de mal da sua pessoa, essa para mim foi a maior herança deixada por ele e que procuro seguir hoje como pai, que pena que não pude contar com ele por mais tempo em minha vida, quando o meu pai morre eu tinha apenas 14 anos de idade, mas esse tempo foi o bastante para que ele fizesse de mim um verdadeiro homem. Hoje tenho um filho e só agora consigo ter uma ideia do quanto meu pai gostava de mim, por isto parabéns a todos os pais do brasil e em especial aos nossos pais que nos ensinaram uma verdadeira lição de vida e que tenho certeza que estão orgulhosos dos filhos que deixaram aqui na terra. rodrigo.
ResponderExcluirSEI NÃO, VIU!!! MAS DEPOIS DE UMA MISSA DESSA DE CORPO PRESENTE, COM DIREITO A FOTO DO PAI DO JORNALISTA ESSE PESSOAL TEM ALGO OU COISA PARECIDA COM O DNA DE MARINA SILVA. HONESTIDADE(SEM PRECISAR SER SANTO), TÁ ACIMA DE TUDO. IMAGINEM, NA POLÍTICA...
ResponderExcluirQuero lhe pedir licença neste espaço e fazer um breve comentário:
ResponderExcluirQuero parabenizar aqueles "PAIS" que simplesmente desconhecem o principal valor ou força que essa palavra tem, muitos ainda não conhece nem o seu significado a sua importância na formação de um ser humano, outros até podem conhecer, mas ignoram, achando que simplesmente uma PENSÃO ALIMENTÍCIA compra ou substitui: um carinho, amor, atenção, as palavras de conselhos, a presença, ou até mesmo um gesto simples como um aperto de mão ou um abraço.
A estes nobres REPRODUTORES, desejamos um feliz dia dos pais.