Incêndios é um filme destinado a
ser tornar um clássico. Certamente será exibido em sessões de arte e tem tudo
para virar objeto de discussão entre estudantes universitários, professores,
sociólogos, historiadores e cientistas políticos.
Desses filmes que traz uma
história difícil de esquecer.
O longa de 2010 (novíssimo, se
comparado a maioria dos comentados nesta série), é uma produção
canadense/francesa, com direção de Denis Villeneuve, este natural do Canadá.
Concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2011 e recebeu rasgados
elogios da crítica especializada. Numa pesquisa feita pela internet, depois de
assisti-lo esta semana, encontramos pelo
menos uma dezena de artigos destacando a qualidade deste trabalho, um drama
intenso e verdadeiramente surpreendente.
Além da direção segura e sem
floreios do canadense, Incêndios tem um bom elenco, com destaque para a bela
Lubna Azabal. Ela vive o personagem Nawal Marwan e alguns acham que o seu nome
devia ter sido incluído entre as concorrentes ao Oscar de Melhor Atriz.
Baseado numa peça de teatro, o
filme começa quando o tabelião Jean Lebel chama ao seu escritório os gêmeos
Simon e Jeanne Marwan para a leitura do testamento da mãe.
Nawal deixou expressas estranhas
condições para seu sepultamento, o que provoca reações dos filhos,
principalmente Simon, que no primeiro momento se recusa a cumprir as
exigências.
A velha senhora deixa duas cartas
para serem entregues pelos gêmeos. Uma para o pai, que eles julgavam não mais
existir, outra para um irmão que desconheciam completamente.
Apesar da má vontade de Simon,
Jeanne resolve viajar, em busca do pai, do irmão, do passado de sua mãe.
Numa jornada dramática, descobre que
Nawal Marwan foi uma mulher que sofreu horrores, por conta dos preconceitos e das guerras religiosas.
O homem que amou, quando jovem, os irmãos mataram. Por pouco ela também não era assassinada e o
seu filho - fruto do amor proibido - lhe foi tomado e entregue num orfanato
para adoção.
Mais tarde, participa de um
movimento político e assassina um líder direitista, sendo condenada a 15 anos
de prisão. Cumpre sua pena nas piores condições, sendo humilhada, torturada e
violentada. Resiste a tudo bravamente e irrita seus algozes, passando a ser
conhecida como “a mulher que canta”, por enfrentar as adversidades entoando
músicas que irritam seus carcereiros.
Diante do que vai descobrindo
Jeanne pede ajuda ao irmão, que reluta, porém termina se juntando a ela na
busca pela verdade, juntamente com o tabelião Lebel, para o qual a senhora
Marwan trabalhou durante anos e conquistou sua amizade.
Rubens Ewald Filho, um crítico
convencido, mas que sem dúvida entende bastante de cinema, concluiu uma resenha
sobre Incêndios com as seguintes palavras:
“Embora não se furte em retratar
cenas terríveis de tortura, um massacre de passageiros mulçumanos de um ônibus
por tropas cristãs, o final realmente me parece algo nunca visto, mas
perfeitamente possível demonstrando como pode ser cruel a guerra e a vida e
forjando dramas que até as próprias telenovelas duvidariam.
“Um filme intenso e surpreendente,
sua seleção honra a pequena lista dos finalistas deste ano”.
Outros críticos respeitados seguiram o mesmo caminho de Ewald.
Incêndios foi o grande vencedor do Genie
Awards (o Oscar canadense), com oito prêmios, incluindo melhor filme, direção
(Denis Villeneuve) e atriz (Lubna Azabal). O filme foi aclamado por público e
crítica – entre seus admiradores, encontram-se, por exemplo, a documentarista Julia Bacha (diretora de Budrus) e a jornalista Ana Maria Bahiana, uma das melhores do país, na área da sétima arte.
Recomendo para
quem gosta de filmes de qualidade. Os que são ligados em política, em história,
em sociologia; aqueles que têm interesse em compreender melhor as guerras
religiosas do Líbano e outros países do Oriente Médio, vão se deliciar com esse filme realmente diferenciado.
Pode ser
conferido no Tele Cine Cult ou baixado através da internet.