Nos anos 50, 60 e 70 o faroeste ou bang bang era quase
sinônimo de cinema, principalmente no interior nordestino. Os dramas e romances
não atraiam tanta gente às salas de projeção quanto as incontáveis aventuras da
conquista do oeste americano. O mocinho, os bandidos, os índios, cavalos,
pradarias, revolveres e rifles preenchiam o imaginário da garotada, dos
adolescentes e dos adultos que cultuaram durantes anos atores como John Wayne,
Gregory Peck, Randolph Scott, Franco Nero, Giuliano Gemma, Charles Bronson,
Glenn Ford e Yul Brynner.
Além do trabalho dos americanos, nesta área, ainda vieram os
italianos, com os western spaghetti que povoaram nossa imaginação com dólares a
mais ou a menos, Djangos e Ringos. “Era Uma Vez no Oeste”, de Sérgio Leone,
talvez seja o mais representativo dessa produção.
Depois dos anos 80 vieram novos tempos, surgiram as novas
tecnologias, os filmes de ação, as comédias românticas, o suspense, a ficção
científica e os dramas começaram a tomar conta da cena e os faroestes entraram
em declínio.
Muitos das gerações dos videogames, videocassete, DVD e
outros brinquedos modernos desconhecem o sabor de um bom western, do herói
solitário em cima de um cavalo, cassando bandidos e levando até as última
conseqüências um plano de vingança.
Coube a um diretor que começou como ator, tendo interpretado
grandes personagens em filmes de faroeste, realizar em 1992, quando o gênero
estava esquecido, uma obra prima do cinema resgatando o velho western.
Clint Eastwood, já presente nesta série com As Pontes de
Madison, uma grande história de amor, comparece novamente com o seu impecável
Os Imperdoáveis.
O longa é tão bom que conquistou juntos o público e a
crítica, inclusive da Academia de Holywood. Os Imperdoáveis foi o grande
vencedor do Oscar de 1993, ficando inclusive com as estatuetas de Melhor Filme
e Melhor Diretor.
Foi o reconhecimento definitivo de Eastwood, excelente ator,
que já estava brilhando também por trás das câmeras.
Os Imperdoáveis é um faroeste moderno, realizado quando os
cineastas já dispunham de muitos recursos que faltavam nos anos 50 e 60, mas
fiel ao gênero, ao estilo e ao legado dos bons diretores do passado, como
Sérgio Leone, que é homenageado nesse vigoroso trabalho de Clint.
O filme começa com uma cena num cabaré de um lugarejo
qualquer do velho oeste americano. Dois vaqueiros estão com as prostitutas e um
deles, um brutamontes, fica aborrecido com a sua parceira porque esta ri do seu
pinto pequeno. Ele, enraivecido, machão, decide se vingar e com uma faca corta
a mulher no rosto e outras partes do corpo, deixando a pobre puta incapacitada
para o trabalho.
As colegas da mulher ficam revoltadas. Exigem uma reparação
para o mal causado pelo vaqueiro. O chefe do prostíbulo, no entanto, preocupado
só com seus negócios, fica satisfeito com o pagamento arbitrado pelo xerife da
cidade. Os vaqueiros trariam alguns potros (cavalos) pelos prejuízos causados e
tudo bem.
As prostitutas não se dão por satisfeitas. Fazem uma
reunião, juntam as economias e resolver oferecer mil dólares de recompensa ao
pistoleiro que matar os dois homens envolvidos.
A partir daí entra em cena o jovem Schofield Kid, que
interessado na recompensa vai atrás de William Munny (Clint Eastwood), um
pistoleiro famoso no passado, mas que há 10 anos vivia sossegado num recanto
escondido do mundo, criando porcos e cuidando dos filhos.
A princípio Munni reluta em aceitar o serviço, a parceria,
mas como as coisas estavam ruins financeiramente para ele e sua mulher Cláudia
havia morrido, o cowboy termina por alcançar Kid e vai atrás do cobiçado
prêmio, disposto a matar os vaqueiros.
Antes William Munny passa na casa de Ned Logan (Morgan
Freeman), amigo dos velhos tempos e também o convida a participar da missão.
Antes desse trio, chega à cidadezinha da região do Wyoming o
pistoleiro English Bob (Richard Harris), de olho na grana oferecida pelas
prostitutas. Vaidoso, fanfarrão, elegante, o bandido recebe um tratamento
inesperado do xerife do lugarejo Little Bill (Gene Hackman), que acompanhado de
um bom grupo de homens armados desarma e prende o pistoleiro. Este é espancado
e posto para fora do lugar de forma humilhante, deixando até o biógrafo que o
acompanhava para narrar suas façanhas. Este, oportunista, vai começar a
escrever agora sobre o poderoso e arrogante xerife.
Pouco depois chegam Munny, Kid e Ned. O primeiro fica no
bar, armado e os outros dois vão se divertir com as mulheres. Little Bill chega
com seus homens e dá ao velho William o mesmo tratamento dispensado a Bob.
As prostitutas, já perdendo as esperanças de que alguém mate
os vaqueiros, por causa do xerife, tratam os ferimentos de Munny e ele com seus
companheiros insistem em fazer o trabalho.
A história é boa, o roteiro muito bem escrito, mas nada
disso funcionaria sem uma direção primorosa e um elenco genial como o que foi
reunido por Eastwood. O trio principal, formado pelo próprio Clint, Freeman e
Gene Hackman dispensa comentários. Todos três já estavam mais do que
consagrados em filmes como Operação França, Mississipi em Chamas, Por um
Punhado de Dólares e Um Sonho de Liberdade.
Além disso Os Imperdoáveis é um western diferenciado. O herói
não é um santo. É um pistoleiro, um homem cheio de remorsos, que não consegue
ficar em paz com seu passado. As mulheres não são simples coadjuvantes,
passivas. São corajosas e estão dispostas a defender a sua causa. Na verdade o
cineasta trata elas, prostitutas no filme, com muito ternura. Clint as retrata
não apenas como vítimas (do cafetão e da sociedade), mas quase com uma áurea de
santidade.
Os homens são brutos e o pior deles é o representante da
lei, o xerife. Little Bil é um sujeito frio, cruel, sem sentimentos bons. Disposto
a tudo para fazer cumprir sua vontade e satisfazer sua vaidade. Ele é talvez
pior do que Bob.
Com tudo isso na trama Clint Eeastwood realizou um filme
magistral, que se equipara aos melhores faroestes do passado e supera muitos
deles.
O final, que não pode ser revelado para quem ainda não
assistiu, é grandioso, surpreendente e completa o trabalho magnífico que
envolve o espectador desde o início.
Merece ser visto, revisto e integrado na sua coleção de clássicos.
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