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FILMES INESQUECÍVEIS XXI


UM ESTRANHO NO NINHO

Há livros, músicas, peças de teatro e filmes que não dá para esquecer. Quem leu Dom Casmurro na adolescência, estudando para o vestibular e hoje está cinquentão, ainda lembra da história envolvendo Bentinho, Escobar e Capitu. O velho Machado marca a gente para sempre. A Banda de Chico Buarque, é dos anos 60. Cálice, do mesmo compositor, é da década seguinte. Mas ambas permanecem na memória de quem as ouviu pela primeira vez no rádio. Uma trazendo de volta um tempo de mais ingenuidade ou romantismo e a outra dias mais conscientes, expressos num tempo de repressão na política e em outros setores da sociedade brasileira. Inesquecíveis são os dramas de Nélson Rodrigues levados aos palcos, ou centenas de filmes que tivemos oportunidade de ver no escurinho do cinema ou mesmo na tranqüilidade do sofá de casa.

Nesta série temos escrito sobre filmes do final dos anos 40, da década de 60, 80 e até trabalhos mais recentes, como o ótimo O Segredo de Brokeback Mountain, de 2005. Voltamos, neste artigo, 35 anos no tempo, mais exatamente a 1976, quando o antigo Cinema Veneza, do Recife, estreava Um Estranho no Ninho, do cineasta checo naturalizado americano Milos Forman. O longa foi um tremendo sucesso, com a sala cheia todos os dias, em todas as sessões. Os jovens e pessoas de todas as idades comentavam nas ruas, nos bares, nas faculdades, nos colégios, na redação dos jornais, nos consultórios médicos.

Antes de entrar na história, lembremos que Forman não é o autor de apenas um grande filme. Além desse, focado nessa resenha, ele levou às telas o excelente musical Hair, que assanhou a juventude recifense a partir de 1979; contou no cinema a história do compositor de música clássica Mozart no bem conduzido Amadeu, abordou a questão do racismo em Ragtime, de 81, e recebeu duas indicações ao Oscar pelo O Povo versus Larry Flyn, onde registra a vida de um personagem real americano, editor da revista Hustler, uma publicação que recebeu vários processos da justiça do seu país.

Hair talvez seja o filme mais emocionante do cineasta, Amadeus o mais erudito, Ragtime o mais engajado, mas certamente Um Estranho no Ninho é o mais forte e possivelmente o melhor não só de Milos Forman mais um dos melhores de toda a história do cinema.

Um Estranho no Ninho foi sucesso de público, de crítica e ganhou cinco Oscar em 1976, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Adaptado. Todos os prêmios foram merecidos, fica difícil contestá-los conhecendo essa grande obra de arte.

O longa de Milos Forman de 1975 conta a história de Randle Patrick McMurphy interpretado de forma magistral por Jack Nicholson. O personagem é preso e resolve se fingir de louco para ser internado numa casa de tratamento psiquiátrico. No local, encontra personagens fascinantes, frágeis e autoritários, como a enfermeira chefe da clínica Ratched (Louise Flectcher). Ela representa o próprio sistema de tratamento dos loucos: abusivo, incorreto, sem resultados palpáveis a não ser manter a clientela dopada a base de medicamentos e alienada.

Infelizmente, tantos anos depois dessa denúncia através de um veículo de comunicação de massa, em muitos países, inclusive no nosso Brasil, as pessoas que sofrem de perturbação mental continuam sendo tratadas de forma anacrônica e repressora, com abuso na medicação e criação de uma total dependência. Há poucos dias mesmo fui informado da situação de uma paciente, tratada em Garanhuns, que levada para o Recife deixou os médicos espantados. O profissional da capital disse que por aqui deram tanto remédio a ela que seria preciso um outro tratamento, só para fazer uma “limpeza” dos excessos. Seria preciso desintoxicar para recomeçar o trabalho da cura.

Voltando ao filme, Mac, como é chamado carinhosamente o personagem de Nicholson, não é louco, mas os profissionais de saúde, com o seu trabalho rígido querem transformá-lo em tal, utilizando-se de métodos verdadeiramente fascistas. Milos Forman, eu seu filme, não quis simplesmente fazer uma crítica aos hospitais ou clínicas psiquiátricas espalhadas pelo mundo. Ele, de alguma maneira, fez uma alegoria e bateu em todas as formas de opressão, inclusive o comunismo que sufocou o seu país de origem durante décadas.

Mac revoluciona a clínica, torna-se um líder, doentes melhoram no convívio com o divertido paciente, porém o sistema não vai admitir a subversão e irá dar um tratamento de choque no cabeça, para que nada mude no local e os loucos não se rebelem. O filme todo é envolvente, diverte, comove e tem um final forte e surpreendente. Além do brilho de Jack Nicholson, escolhido melhor ator de 1976 pela Academia Americana, está excelente a atriz Louise Flectcher, também premiada por Hoolywood, e o índio ou “Big Chefe” interpretado por Will Sampson, um grandalhão de quase dois metros de altura, que às vezes parece uma criança e consegue a empatia com a platéia durante todo o longa. Os dois, Mac e o Chefe Brodem vão protagonizar as cenas mais contudentes e inesquecíveis dessa extraordinária produção conduzida por Milos Forman.

Tantos anos depois, Um Estranho no Ninho continua valendo como denúncia de um sistema repressor, seja esse sistema econômico, médico ou político.

**Já publicados nesta série: Central do Brasil, O Segredo de Brokeback Mountain, Titanic, O Sexto Sentido, Cidade de Deus, Ladrões de Bicicleta, O Silêncio dos Inocentes, Gladiador, Horizonte Perdido, E O Vento Levou, A Bela da Tarde, ET - O Extraterrestre, Suplício de Uma Saudade, Janela Indiscreta, Os Brutos Também Amam, Um Sonho de Liberdade, A Noviça Rebelde, O Grande Ditador e Casablanca.

Um comentário:

  1. Prezado Roberto,

    Sempre li esta sua série de filmes inesquecíveis. Nunca as comentei, pois a maioria não é para comentar e sim para relembrar e sentir. Eu adoro cinema e muitas vezes fico sem ter o que ver, hoje na TV, por não lembrar bons filmes, quando vou a algum vídeo clube. Depois desta sua série, sempre que vou lembro do de Roberto Almeida, que normalmente é também inesquecível para mim.
    Obrigada por mais esta lembrança de Estranho no Ninho, que vi também e deve ter sido no Veneza. Bons tempos.
    Hoje estou lutando para não me sentir uma Estranha no Ninho em meu próprio país e penso que você também. Excelente suas lembranças. Adorei não falar em política hoje, antes que comece,
    Obrigada

    Lucinha Peixoto (Blog da CIT)

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