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DEUS



Aqui já foi citado talvez mais de uma vez o intrigante e inteligente texto do jornalista Jodeval Duarte, capaz de provocar muitas reflexões. No última edição do Correio Sete Colinas, o artigo foi reproduzido, juntamente com outro de um bonconselhense declaradamente ateu e um terceiro do autor do blog, que caminha mais na direção de acreditar em algo além de nós mesmos, capaz de dar sentido a tanta luta, injustiças, sofrimentos e angústia do ser humano. Abaixo seguem dois textos publicados no jornal impresso.

UM DEUS MUITO ESTRANHO
Jodeval Duarte

A tragédia de Angra dos Reis, trazida a todos os lares em tempo real, com toda carga de sofrimento, nos remete a uma das mais profundas contradições da crença religiosa. É quando os sobreviventes, entrevistados, dão graças a Deus. Em nenhum momento parecem perceber que o Deus que salvou a vida do entrevistado ou de sua família, levou dezenas de outras vidas. Isso acontece com frequência em grandes acidentes, quando há um ou dois sobreviventes. Inevitavelmente eles atribuem a Deus permanecerem vivos, enquanto centenas de outros morreram. Fica no ar: por que a escolha? Da mesma forma acontece em momentos menos sérios, como no futebol, quando jogadores de um time elevam os olhos para o céu e atribuem a Deus sua vitória, ou até mesmo terem feito um gol. É o momento em que percebemos que Deus torce pelo Flamengo, ou pelo São Paulo, ou Corinthians, e por aí vai. Essa contradição me incomodava desde quando adolescente, no Colégio Diocesano. Nunca aceitei um Deus que seleciona quem deve viver e quem não deve, quem deve ser feliz e quem não deve, quem deve ser rico e quem não deve. Sempre me pareceu um Deus bizarro, seletivo, discriminador e cruel quando permitia - e permite - que milhões de crianças morram de fome, milhões de mulheres sejam espancadas todos os dias, milhões de homens permaneçam em trabalho escravo. Seguramente, isso para mim não pode ser um ser supremo.

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AS MÚLTIPLAS FACES DE DEUS - Roberto Almeida

Deus é estranho mesmo. Não podemos vê-lo, nem ouvi-lo, nem falar-lhe com a certeza de que somos escutados. E existem diferentes deuses. Dos católicos, dos hindus, dos islâmicos, dos judeus, dos espíritas e até de certo modo dos budistas. Ou Sidarta, o Buda, não seria um Deus?

O Deus do antigo testamento dos cristãos é descrito como um velho de barbas longas, meio carrancudo e disposto a castigar de forma dura os desobedientes e pecadores. No novo testamento, Cristo, que também é Deus, suaviza a imagem do Criador. Ele é Pai, é Amor, é Tolerância, é Perdão.

Deus existe no passado e no presente. Apesar da Ciência, da Medicina, da Tecnologia e do saber cada vez maior do homem. Está presente e vivo nos lugares atrasados, primitivos, mas também nas nações desenvolvidas do chamado primeiro mundo. Na Europa, em muitos países, está em declínio, porém continua forte em outros, a exemplo da Itália e de Portugal. E me parece marcar de maneira muito forte a sociedade americana, que é bem desenvolvida.

Conheço muitas pessoas ignorantes e primitivas que acreditam cegamente num Deus. Eles são maioria e acreditam sem nenhum tipo de questionamento, vendo no padre ou no pastor a expressão da verdade e na palavra da bíblia o roteiro definitivo para ser seguido nesta vida. Tudo feito de acordo com as recomendações do Criador, ainda há a garantia de recompensas na outra vida, esta sim a que realmente importa.

Existiram e existem, no entanto, pessoas sábias, cultas e bem informadas que também acreditaram ou acreditam em Deus. Um exemplo é o escritor Alceu Amoroso Lima, intelectual respeitado e católico até os últimos dias de sua vida. Dom Hélder Câmara era poeta, inteligente, sensível, corajoso e parecia ver Deus, com aqueles pequenos olhos de santo. Em Garanhuns temos no nosso convívio, com mais de 80 anos, a professora e escritora Luzinete Laporte. Escreve bem, fala vários idiomas, leu os livros mais importantes que já foram escritos e tem uma crença maravilhosa no cristianismo e seus ensinamentos, que levam a Deus.

O padre Fábio de Melo, um fenômeno mais ou menos recente da Igreja Católica, não é um novo Marcelo Rossi, com aquele ar de alienado e um tanto fanático (pode até ser somente impressão). É inteligente, culto, leu o melhor da literatura brasileira e mundial, os poetas... Quando canta ou escreve nos apresenta Deus de uma forma bonita.

Fernando Pessoa, o poeta português, confessou num poema não acreditar em Deus. “Porque nunca o vi”. Mas vê na natureza, nos cumes, nos mares, nos seres humanos, nas árvores, sinais do divino. E os chama por esses nomes e não por Deus. E sua vida é de comunhão com eles, é uma “missa permanente”.

Quando se pensa no Holocausto, ou nos terremotos, nos grandes acidentes aéreos que matam centenas ou milhares, vem aquela pergunta: Qual a explicação para essa tragédia, a barbárie? Por que Deus permitiu?

A morte é uma prova da inexistência de Deus?

A injustiça, a fome, a privação de crianças aniquila Deus?

O artigo do jornalista Jodeval Duarte é interessante e nos faz pensar. É um artigo justo, honesto, coerente. No entanto, o articulista questiona um determinado tipo de Deus que nos apresentaram ao longo da vida. No Colégio Diocesano, nos seminários, nos sermões dos padres de antigamente e de alguns dos dias de hoje.

A tristeza e a contradição em Angra dos Reis. Deus escolheu quem devia morrer e continuar vivendo? Deus é mesmo estranho ou injusto? Existe Deus?

Acho que a Ciência também não tem condições de explicar por que ocorrem todas as tragédias e nelas alguns sobrevivem enquanto outros morrem. Mas nem por isso negaremos a Ciência.

Acontece que as ciências se definem, têm forma, podem ser vistas através dos seus representantes.

A Ciência é humana. Deus está acima do humano. Mesmo que não exista. E se existir é mistério, não pode ser alcançado por conta das limitações do homem.

Existem curas difíceis de entender. Pessoas que escapam de determinadas situações que só atribuindo o fato a um milagre. Existem verdadeiros santos na terra. E “existem mais coisas entre os céus e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.

Não aceito, como o Jodeval, o Deus estranho e injusto. O Deus que pune. Não acredito nesse Deus construído ao longo de séculos para sustentar determinadas religiões, cultos, seitas e manter certos privilégios.

Acredito, porém na força da mente, na energia dos seres humanos, na vontade de viver, na sintonia do homem com o que está em volta; as plantas, os animais, as águas, os planetas, as estrelas, o cosmo e até podemos chamar tudo isso Deus.

A escolha de quem vai ser salvo (continuar vivendo mais tempo) ou de quem vai morrer pode não ser feita por Deus. Pode ser nossa mesmo, ou em conjunto, ou pode ser tudo acaso mesmo, coincidência...

Será que o acaso em tudo é mais lógico do que existir um Deus?

Perguntei uma vez a um neurologista: “Dr., o Sr. acha que eu fui salvo somente pelo médico ou Deus também ajudou”. Ele sorriu de maneira simples e não titubeou na resposta: “Eu acho que Deus também fez a sua parte”.

O paciente, o médico, as mães, os amigos, os padres, as enfermeiras, os irmãos, os filhos... Acho que cada um faz um pouqinho. E Deus, que sempre é o somatório, termina por dar o destino final.

Não creio que Deus mate ninguém. Todo ser vivo um dia morre. Mas acredito, sinto, que existe algo além de mim – dêem-lhe o nome que quiserem – com poder suficiente para atender um pedido sincero, ou milhares de preces, e salvar, prolongando, até quando for possível o milagre da vida.

Um comentário:

  1. Caro Roberto Almeida,

    Você não sabe a alegria minha ao saber que meu artigo estava no Correio Sete Colinas. Como estou em Belém, não tive acesso a ele. Como você mencionou noutra postagem o meu artigo foi postado no Blog da CIT que agora encontra-se entre os seus indicados, está no link:

    http://www.citltda.com/2010/01/o-deus-de-jodeval.html

    tendo como título O Deus de Jodeval.
    Este comentário é só para dizer que gostei do seu artigo, sobre as múltiplas faces de Deus. Não posso fazer comentários extensos neste espaço, mas fiquei feliz por encontrar um novo ateu em Garanhuns. Agora somos três: Eu, você e o Jodeval.
    Preciso dizer ainda, para tranquilizar o Padre Nelson, que eu não sou de Bom Conselho, só trabalho com bom-conselhenses, no fim termina pegando, mas não nasci lá. Quem é de Bom Conselho é o Jodeval. Você é de Garanhuns? Se não for, pelo menos não teremos problemas com o Bispo.
    Depois, noutro espaço e com tempo lhe direi porque, a partir do que você escreveu, você é ateu, pois como você escreve, "podemos até chamar tudo isso de Deus", mas isto não leva à sua existência, a não ser como uma criação do homem à sua imagem e semelhança.

    Cleómenes Oliveira

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